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O BOI VOADOR

O BOI VOADOR


ZARCILLO BARBOSA


A Câmara de Vereadores de Bauru ameaça constituir uma Comissão Especial de Inquérito, para levantar responsabilidades sobre o atraso nas obras da Estação de Tratamento de Esgoto. Era para entrar em funcionamento em 2014, tratando 95% dos esgotos da cidade e dando importante passo para o saneamento urbano. Atualmente, os dejetos são lançados in natura no Rio Bauru, que poderia até ser um local de lazer para a população, como foi no passado no tempo da Lagoa do Ministro.


Na primeira metade do século passado, na chamada Baixada do Silvino, casais passeavam de barco, havia comes e bebes nos quiosques à margem e a banda tocava nas tardes de domingo.


De há muito o Rio Bauru está todo poluído e cheira mal. Melhorou um pouco de aspecto, na região central, porque os interceptores jogam a água fétida mais a jusante.  A ETE tem recursos assegurados, do governo federal. Conta, também, com o dinheiro do fundo constituído por contribuições compulsórias debitadas nas contas dos consumidores do DAE. Nem com dinheiro a obra desencanta.  Recursos não faltam. Mas as obras caminham devagar, quase parando. A empreiteira disse que faltam mais de mil projetos complementares. Orçada em R$ 126 milhões, a conta já ultrapassa os R$ 140 milhões.


A acusação é grave. Significa que as autoridades irresponsáveis, se meteram numa aventura que pode redundar em milhões de reais em prejuízos para o município. Desde 2010 existem Termos de Ajustamento de Conduta assinados com o Ministério Público para obrigar ao DAE a tratar o esgoto. E nada aconteceu. A promessa, agora, é que a ETE ficará pronta em 2022. Pelo andar da carroça, a nova data poderá marcar, apenas, mais uma frustração.


Atraso em obras, por falhas de projeto e incompetências outras, sempre existiram no Brasil. Muitas vezes, como forma de criar possibilidades de se firmar aditivos contratuais, aumentar os ganhos e sobrar propinas. No caso de Bauru, nada disso foi constatado. Fica por conta da “pouca prática”.


Até o príncipe Maurício de Nassau, durante a invasão holandesa em 1641, se enrolou com a construção de uma ponte sobre o Rio Capiberibe, onde hoje está Recife. A ponte escorada por troncos de madeira, não teve como vencer a parte mais funda do rio, com o fluxo forte das águas e a ação de marés. Parou tudo. O povo dizia que seria mais fácil um boi voar do que a ponte ficar pronta.


Na Câmara de Bauru, dizem que até “boi avua”, para não se instalar comissões de inquérito. O prefeito Gazzetta tem base sólida de sustentação política. Mas, o nosso administrador pode ainda se redimir, como Maurício de Nassau. O Príncipe de Orange mandou trazer pedras de cantaria, ergueu fundações sólidas no fundo do Capiberibe e a ponte pode ser concluída.


Numa jogada de marketing, espalhou a notícia de que um boi iria voar sobre a obra de arte. Uma multidão atravessou a ponte, de uma margem à outra, pagando pedágio e possibilitando excelente arrecadação logo no primeiro dia. Maurício mandou esfolar uma rês, conservou cabeça e chifres, encheu o couro de palha e, mediante cordas e roldanas fez o boi “Voar” de um lado para o outro. Ganhou aplausos A ponte no Recife, hoje de concreto, leva o nome do holandês.


Quem sabe o Gazzetta possa também inventar um boi que “avua”, para calar a boca dos seus críticos. Caso contrário, como na marchinha de Chico Buarque, “O boi ainda dá bode”.

Zarcillo Barbosa é jornalista
proximarota
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