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NATAL: MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA

NATAL: MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA


ZARCILLO BARBOSA
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É uma realidade que o espírito de Natal muitas vezes se transforma em um pequeno demônio que provoca brigas, discussões e divergências.


Entreveros acontecem, durante a ceia de Natal, por causa de pontos de vista diferentes a respeito de aspectos ideológicos, políticos, familiares e até futebolísticos. Acontece no Brasil ainda dividido por bolsonaristas, lulistas e “arrependidos” de ambos os lados. Também na civilizada Inglaterra com os pró Brexit e contra. Nos Estados Unidos há tensões sobre o impeachment de Trump e as políticas migratórias.


Não há pesquisas que meçam o tamanho do mal-estar causado pela atual polarização política nas famílias brasileira. Mas aqui e ali há indícios de um fenômeno sem precedentes na história recente. Mensagens enviadas por WhattsApp ou nas redes sociais ainda tentam fazer graça da situação e se tornam virais.


Li, ainda ontem, a mensagem de um amigo que tenta, com uma dose de ironia, fazer com que os parentes briguem pelo que realmente importa: “Natal com ou sem uva passa no arroz? ”


As clínicas de psicologia e psicanálise criaram o que eles chamam de “Laboratório de conversas difíceis”. Há pessoas que relatam ter brigado com a família inteira – não só com a sogra. Até a meia-noite, os familiares comem e bebem, ninguém fala de política, mas, lá pela 1 da manhã, basta uma piada e a coisa estoura.


Estudos demonstram que nas grandes famílias, muita gente chega para a festa já com um pé atrás. Como se fossem filósofos estoicos: esperando pelo melhor, mas preparados para o pior.


A recomendação é que se evitem assuntos tabus durante a festa. É verdade que será difícil evitar que venham à baila temas como homofobia, racismo, volta da ditadura, desemprego, luta contra a corrupção.

 
– Como minha senhora?  Se o Papai Noel deve se vestir de azul, como prefere a Damares? Aí já é querer avacalhar…


Os estudiosos da “comunicação não violenta” aconselham que se incentive os convidados a ouvir com respeito. O filósofo grego Epiteto, também um estoico, afirmava que “a natureza nos deu dois olhos, duas orelhas e uma boca, para que pudéssemos observar e escutar o dobro do que falamos”.


Milênios depois, hoje existem técnicas e estratégias específicas de comunicação humana denominadas “escuta ativa”. Nenhum segredo. Trata-se de escutar com tudo. De atender a quem está explicando isto ou aquilo e tentar entendê-lo. Parece simples, se as partes falam o mesmo idioma.


Há várias coisas que podemos fazer, como não interromper, não ficar atento ao celular, não julgar, não dar conselhos que não foram pedidos. Abrir os ouvidos às vezes é o primeiro passo para abrir o coração.


Cuidado: In vino veritas, ensinava Plínio, o Velho – no vinho está a verdade. E não porque o vinho nos torne mais sábios e comecemos a entender os segredos dos cosmos, mas porque solta a nossa íngua. Com certeza, vinho não falta em comemoração de Natal, nem que seja espumante.  Por isso, não beba demais se não quiser falar demais.


Falar em coisa certa na hora errada pode dar zebra. Peloamordedeus, nem toque em heranças pendentes.  Melhor oferecer um elogio genuíno ao bolo da sogra ou ao pernil assado do cunhado.


Se alguém vai a uma festa com a intenção se sofrer, que não sejamos nós.

 
FELIZ NATAL.


*Zarcillo Barbosa é jornalista.

proximarota
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