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MUDANÇAS, POR DENTRO E POR FORA

MUDANÇAS, POR DENTRO E POR FORA

ZARCILLO BARBOSA
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O poeta Teixeira de Andrade falava sobre um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam aos mesmos lugares.


É o tempo da travessia: e, se não ousamos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.


Outro poeta, Fernando Pessoa, deixou-nos uma lição sobre o modo de despir-se das velhas coisas arraigadas. “Procuro esquecer o modo de lembrar o que me ensinaram”. Seria como “raspar a tinta” que cobre os nossos sentidos em várias demãos. O heterônimo Alberto Caeiro, do alto da sua individualidade, pontuava a necessidade de “desembrulhar-me e ser eu”.


Está em curso no mundo, um processo de transformação estrutural com múltiplas dimensões: tecnológica, econômica, cultural, institucional. As atualizações somente vão acontecer, como benesses para todos, na medida em que as mudanças se verifiquem de dentro para fora. Não mais como solução de problemas apenas existenciais, mas a partir da compreensão de que o mundo mudou e precisamos também cambiar.  Tanto na prática cotidiana, como na mentalidade, e a partir dela. 


A mobilização da opinião pública, feita em meio a uma turbulência de informações, hoje independe de lideranças. O sistema midiático diversificado, como o que temos hoje no mundo moderno, nos dá novos significados políticos.


Os recursos tecnológicos, e as mudanças na sociedade, colocam o cidadão como protagonista. Mas, ainda é o jornalismo que continua sendo o espaço público para a formação de um consenso em torno do projeto democrático. Em qualquer plataforma que se apresente.


Os jornais ainda são a fortaleza maior do jornalismo de qualidade, tão importante para as democracias. São contestadas por pesquisas, as teses de que as novas tecnologias, como a internet, os blogs, o Twitter, as redes sociais de comunicação, como a Facebook, seriam elementos de neutralização da grande imprensa. 


Os jornais continuam sendo a principal fonte de notícias daqueles que leem em várias plataformas.


Não há dúvida de que, com o surgimento das novas tecnologias, os jornais perderam a hegemonizada informação, mas continuam sendo fatores fundamentais para a cidadania.


Os desafios é que mudaram, como o de explorar uma intensa variedade de meios de levar informação ao leitor.


Informação de mais, também produz desinformação, na definição do filósofo francês Jean Baudrillard.


Muito pouco se aproveita da informação fragmentada e desconexa. Mais informação e menos conhecimento, reduz a reflexão. A rede social estaria induzindo a um pensamento raso.


Os novos meios de comunicação dependem também de novos leitores, para o avanço da sociedade.


As pessoas, precisam estar atentas para aproveitar o que as suas experiências lhes revelam. O leitor também tem deveres e obrigações. A primeira delas seria despir-se de atitudes passivas, de concordância prévia com o texto. Enfim, fortalecer o seu espírito crítico.



   

Zarcillo Barbosa é jornalista
proximarota
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