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MORO JOGA SUA SORTE NO MARACANÃ

MORO JOGA SUA SORTE NO MARACANÃ

ZARCILLO BARBOSA



A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), dispõe que “ninguém sofrera intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação”.  Em tempo de Facebook, Twitter, Instagram e WhatsApp, todos esses conceitos, também agasalhados pela Constituição brasileira, estão em derrocada.


Quando aderimos à chamada “rede social”, implicitamente estamos concordando que nossa intimidade seja invadida. A indústria e o comércio sabem o que mais consumimos; presidentes são eleitos e derrubados e os pecados que gostaríamos de ver escondidos são tornados públicos.  


Moro, Dallagnol e toda a turma da Lava-Jato, se não sabiam disso foram muito ingênuos. Estabeleceram um conluio nada republicano, utilizando-se do Telegram Messenger para sustentar diálogos entre si.  Sequer podem acusar o jornalista Glenn Greenwald, editor da publicação digital The Intercept, de ter cometido algum crime. Ele está cumprindo o seu dever de jornalista investigativo.


O próprio Sérgio Moro, em 2016, autorizou o vazamento da conversa telefônica entre Dilma e Lula – “está indo aí o Bessias…” Lembram?


Segundo Greenwald, foram captadas 1 milhão de mensagens. Haja assunto. Somente 649.551 foram analisadas. São 30 mil páginas. Moro vai sangrar ainda até o final do mandato de Bolsonaro. Se não exaurir antes. O ministro do STF Luís Roberto Barroso, acha que se trata de “violação criminosa de comunicação privada”.


Nunca vão achar o hacker, aquele cara que entrou no sistema e conseguiu os arquivos. Outro ministro do Supremo, Gilmar Mendes, conspira ao seu estilo, com uma outra teoria: quem captou os arquivos com as mensagens do pessoal da Lava-Jato teria sido um dos seus próprios membros. Um deles estaria revoltado com a falta de isenção e com os entendimentos espúrios extra autos e, decidido a expor toda essa antijuridicidade.


Nos Estados Unidos, as leis anticorrupção preveem a figura do “whistle blower” – o “tocador de apito”.  Cidadão trabalha numa empresa ou repartição pública onde existem pessoas que roubam o governo ou desviam recursos públicos, denuncia e pode habilitar-se a um prêmio de 10% a 30% do produto do roubo ou da multa aplicada. Não importa como ele conseguiu as provas. “American first”.


O mesmo princípio poderia ser aplicado aqui, pelo menos para isentar quem dedou, face ao relevante serviço. Segundo Gilmar Mendes, provas conseguidas ilegalmente tem valor legal, sim senhor.


Consequências: Lula seria solto face aos vícios insanáveis da sua condenação em primeira instância. O ex-presidente, condenado injustamente, também nada teria com os escândalos de corrupção na Petrobras. As acusações teriam sido motivadas por mera perseguição.


O dinheiro, depositado na Suíça, fruto de propinas, volta para os seus legítimos donos. Ficam invalidados os termos do acordo que a Petrobras fez com a Justiça americana para indenizar investidores prejudicados com a gestão corrupta dos seus diretores. As lideranças petistas, em nada envolvidas, devem se livrar de prisões domiciliares e tornozeleiras eletrônicas. O PT não se envolveu em corrupção. Aliás, nada disso existiu. E ponto final.


O que vai valer mesmo, será o teste deste domingo. O presidente Bolsonaro e o ministro Moro irão ao Maracanã assistir à final da Copa América. Pretendem descer ao gramado, para o grande teste. Nelson Rodrigues, alertava que torcedor, no Maracanã, vaia até moça bonita e minuto de silêncio. Se o Moro conseguir ser aplaudido – e Bolsonaro não reivindicar essa glória só para si – estará absolvido pelo povo.


Zarcillo Barbosa é jornalista

proximarota
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