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MENDOZA

MENDOZA

Mendoza significa montanha gelada, um lugar especial para sua próxima rota


ELIANE BARBOSA


Com a Cordilheira dos Andes sempre presente emoldurando todo o cenário como pano de fundo, a província de Mendoza – produtora dos premiados vinhos – tem a cidade de Mendoza como sua capital. Conta com um bem estruturado aeroporto, com lojas e praças de alimentação, comércio atrativo e restaurantes onde não faltam as famosas empanadas, as massas (herança da imigração italiana) e, claro, o bife de chouriço (como o nosso contra-filé bovino é chamado por lá).


É um destino ideal para férias, congressos e eventos. Tem museus, circuitos de artesanato, uma ampla agenda cultural e festividades que atraem gente de todo mundo, caso da Festa Nacional da Vindima.


Centros comerciais, ruas ladeadas por acéquias (essenciais para a irrigação das plantas nessa região desértica) e emolduradas por árvores incluindo os plátanos multicoloridos, fazem de Mendoza uma cidade única.


La Paz, Santa Rosa, Lavalle, San Martín, Junín, Rivadavia, a micro região Maipú-Luján de Cuyo, Guaymallén, a região do Vale do Uco e mais para o sul General Alvear e San Rafael apresentam quilômetros de vinhedos e parreirais. Um paraíso indiscutível para os amantes do bom vinho. E um lugar também perfeito para a prática de uma infinidade de esportes. Os amantes do trekking têm uma variada gama de opções para percorrer veredas de alta montanha, degraus e riachos, entre as que estão no alto vale do rio Cuevas, o Caminho del Inca em Uspallata, os Parques Provinciales Volcán Tupungato e Aconcágua, que com seus 6.959 metros é meca dos alpinistas que querem desafiar o ponto mais alto da América.


O Cristo Redentor e a Puente del Inca


Mendoza propõe muitos outros esportes, incluindo na neve, em Los Penitentes ou um pouco mais distante da cidade, em Las Leñas. A dois quilômetros do passo fronteiriço e monumento Cristo Redentor fica a Puente del Inca, uma formação multicolorida natural construída acima do rio Las Cuevas.


Ali são oferecidos aos turistas artesanato típico da região, além de opções seguras para ecoturismo. A ponte é espetacular, formada por uma imensa rocha, com falésias que vão do dourado ao amarelo intenso. Embaixo avista-se um riacho e ao lado ruínas de um prédio que abrigou no passado uma termal famosa com sauna e banhos quentes para a recuperação de doentes reumáticos. O hotel termal foi destruído por uma avalanche que até hoje pode ocorrer na região, fechando todos os acessos ao parque que leva ao Aconcágua.


O povoado onde está a “Puente del Inca” – ou Ponte do Inca – é um local místico. Conta com uma igreja de pedras e com as antigas instalações de uma velha estação de trem, além de uma série de alojamentos que são ponto de apoio para os esportistas que vão escalar o Aconcágua.


Muitos são os que se arriscam a escalar o Monte Aconcágua, o ponto mais alto das Américas com seus mais de 6.960 metros de altitude.


As praças e a água dos Andes


A primeira vez que estive em Mendoza cai de queixo. Imaginei um lugar seco, paisagem cinza. Nada disso. Tudo verdinho, com os Andes como pano de fundo, praças limpas, nenhum papelzinho no chão, gente passeando, curtindo os dias ensolarados com pets e crianças.


Mendoza, a quarta maior cidade da Argentina é um destino para amantes ou não de vinho. Pois tem muita coisa para ser vista e curtida. Isso sem falar na subida ao Aconcágua que já é coisa de cinema. Claro que se você não é um esportista, não vai se aventurar. Basta, como eu, ir até o Monumento Cristo Rei já citado.


A cidade é realmente linda, contando com hotéis requintados, como o da cadeia Hyatt onde jantei e curti seu cassino e pousadas charmosas, algumas dentro das vinícolas.


Se estiver com o dinheiro contado não se preocupe. Sente num dos inúmeros barzinhos com cadeiras nas calçadas e tome taças e mais taças do melhor vinho argentino. E admire a calma da cidade e suas peculiaridades como as valas (algumas com grade e outras não) por onde circula ininterruptamente a água pura e límpida que derrete dos Andes irrigando as plantas.


Depois de beber, descansar e comer você também pode partir para as termas da região com águas quentinhas relaxantes. Os mendocinos adoram ficar horas nesses ambientes e depois se fartar de empanadas, bife de chourizo e alfajores ou doce de leite. Hummmmm.


No verão ou no inverno? Pouco importa a estação. Sempre é bom visitar Mendoza e avistá-la lá de cima do avião, rodeada por aquela imensidão da Cordilheira dos Andes.


Você pode ir via Santiago do Chile ou via Buenos Aires, na Argentina. Eu fui por essas duas vias e gostei demais.


Por conta de estar localizada bem na fronteira, muitas agências vendem pacotes para lá via Chile. É só voar em torno de quatro horas até Santiago e esperar a conexão para o destino.


Existe, também, a possibilidade de voo direto para a Argentina, com conexão por Buenos Aires. Fique atento ao portão e horário para não perder a conexão. Quase aconteceu comigo. As Aerolineas Argentinas e a LATAM têm excelentes voos para lá.


Mil bodegas


Mendoza é o principal produtor nacional de vinhos da Argentina. Mais de 70% da produção sai de lá – conta com cerca de mil bodegas responsáveis por um vinho de qualidade exportado para vários países e premiado em feiras internacionais.


Por conta disso, não deixe de participar das visitas guiadas a essas propriedades. E se quiser participar da vindima e comer uvas direto dos pés marque a viagem para os meses entre fevereiro e abril. Em março ocorre a Festa Nacional da Vindima.


Há bodegas antigas, rústicas e as super premium, chiques no último. Todas imperdíveis. Como são mais de mil agende sua visita naquelas que já ouviu falar ou tem curiosidade em conhecer.


Recomendo entre muitas outras a Zuccardi onde almocei sob a sombra dos parreirais e Entre Cielos, requintada e rústica ao mesmo tempo com acomodações espetaculares.


A Zuccardi e tantas outras localizadas no Valle del Uco, tem produção de vinhos e azeites de qualidade. Difícil é sair de lá sem comprar pelo menos um desses produtos.


Cheire e deguste


O turista que se dispor a provar os vinhos produzidos nas mais importantes bodegas de Mendoza, na Argentina, vai acabar “borracho” sem conseguir completar o circuito reservado à visitação. São mais de 1.500 produtores, dos quais, pelo menos, 120 tem seus estabelecimentos abertos a excursões guiadas.


Cada uma delas utiliza dezenas de diferentes rótulos no engarrafamento, obedecendo diferenciações para o tipo de uva, o lugar onde as videiras estão produzindo, ano da safra, envelhecimento em barris de carvalho francês ou americano… e por aí vai.


Os guias recomendam aos provadores cheirar o vinho no copo, examinar as cores que dele emana na contraluz e tomar um golinho para despertar as papilas gustativas. Feito isso, deve- -se cuspir o líquido num baldinho apropriado, todo decorado. Depois das primeiras degustações, o amador percebe que não vai dar mesmo para engolir tudo. E a vergonha de cuspir desaparece. A experiência é inesquecível, mesmo para os que não têm o vinho como bebida preferida. Só de estar numa das regiões de maior produção vinhateira do mundo compensa a viagem.


Aos pés dos Andes


Mendoza está a duas horas e meia de voo a oeste de Buenos Aires, nos contrafortes da Cordilheira dos Andes. As montanhas em qualquer época do ano têm picos nevados. No inverno ficam brancas de neve, o que é muito bom para os pés de uva.


O fato tem tudo a ser comemorado porque o degelo vai assegurar água suficiente para irrigar todas as plantações por gotejamentos. É a única região do mundo onde os vinhedos prosperam a mais de 900 metros de altitude. Os solos aluviais cheios de pedras vulcânicas, o alto conteúdo de areia, cal e argila – sedimentos deixados a milhões de anos pela ação de rios e glaciares – formam aquilo que os franceses chamam de “terroir”.


Uvas Malbec


Esse tipo de solo produz uvas concentradas e de caráter intenso. Por isso mesmo Mendoza é chamada de “terra do sol e do vinho”. As noites frias e os dias de intensa luz solar revelaram-se excelentes para a produção da uva Malbec. Ela faz parte importante do blend (mistura percentual) dos grandes crus de Bordeaux, desde os séculos 18 e 19. Na verdade, a Malbec é uma das cinco variedades de Bordeaux, ao lado do Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e a Petit Verdot.


A cepa Malbec foi introduzida na Argentina há 150 anos, mas se tornou famosa somente nas últimas duas décadas. As uvas de cor violácea tornaram-se símbolo do vinho da Argentina. Têm um tom escuro e complexos sabores de frutas negras. O sabor potente perdura na boca. Por isso, o vinho Malbec argentino é considerado melhor que o da origem francesa, onde as cepas sofreram grandes danos por causa da praga filoxera.


Na verdade, um pulgão que come as raízes das plantas e foi responsável pela destruição dos vinhedos franceses em 1875. No início do século, a Pinot Noir era a predominante em Mendoza, trazidas pelos imigrantes italianos e espanhóis. É a uva mais resistente ao frio e à neve. Hoje, tendo como pano de fundo os picos nevados dos Andes, Mendoza desfruta do privilégio de produzir outras excelentes uvas, como a Bonarda, vinda da Itália, a Cabernet Sauvignon e o Cabernet Franc, além das Torrontés que dão magníficos vinhos brancos frutados, praticamente uma uva de exclusividade argentina. O cheiro é de flor e o sabor de pêssego.


Parque General Saint Martin


Mendoza, nome de origem vasca, significa “montanha gelada”. Fica em uma região desértica, mas por conta da irrigação suas praças estão sempre verdes e floridas.


Não muito longe dali está o Aconcágua, o pico mais elevado de toda a Cordilheira dos Andes, com 6.962 metros. É o ponto mais alto do mundo depois do maciço do Everest. A cidade tem cerca de um milhão de habitantes, muitas praças, ruas arborizadas, calçadões (paseos peatonales) e atrativos para os turistas que queiram flanar pelas alternativas gastronômicas, bares, lojas de grife e praças bem cuidadas.


Somente o Parque San Martín tem 307 hectares e 17 quilômetros de alamedas cruzando lagos, fontes com repuxos e monumentos, obedecendo aos estilos inglês e francês, tradicionais na jardinagem que circunda os castelos daqueles países. Os espaços verdes dão uma ideia da riqueza e sofisticação dessa cidade única.


Subindo até o pé do Aconcágua


De qualquer ponto, avista-se a Cordilheira dos Andes que parece sempre estar nos guiando. Se quiser viajar e subir até os pés do Aconcágua para aquela tão esperada foto junto ao Monumento do Cristo Redentor pode ir tranquilo, tranquilo.


Embora algumas empresas de turismo ou mesmo turistas queiram fazer o trajeto com muita emoção por caminhos cheios de pedras e abismos – quando uma das rodas do 4X4 parece querer sair do trajeto, a adrenalina corre solta e os gritos também – é possível chegar lá em cima e na estação de esqui Los Penitentes, por via segura, com asfalto perfeito e pista dupla.


No meio do caminho há lanchonetes rústicas, com aquecimento a álcool e comida caseira. Carne e dois acompanhamentos. Como sobremesa, gelatina ou sagu. E claro, cafezinho, outra instituição argentina.


La fora da “taberna” estarão à espera de um pedaço de carne vários cães. Grandes, na maioria, fortes como o povo das montanhas. Os nossos vizinhos, argentinos e chinelos – Santiago do Chile é muito mais próxima de Mendoza do que Buenos Aires – adoram perros.


Na subida ao Aconcágua presenciei depois de dar comida para uns quatro cães famintos, incluindo um pitbull dócil, uma família desembarcando ração do porta-malas do carro. O chefe me contou que é um hábito. Eles costumam viajar sempre com um pacote de ração para socorrer os cães com fome.


Quando chove ou há nevasca, a Rodovia Panamericana que liga a Argentina ao Chile é fechada pelas autoridades. Aí, ou você volta para Mendoza ou se hospeda por ali.


Há alguns hotéis antigos direcionados ao público da terceira idade. Um deles era bastante frequentado por Evita Peron, a ex-primeira dama e “santa dos pobres”.


A travessia – é o caminho que passa por Portillo, a estação de esqui chilena, dependendo das condições climáticas pode ficar fechada por horas. Atenção, portanto. O melhor é contratar guia credenciado como Cecília junto ao Ministério do Turismo da Argentina. Se quiser seguir até Santiago saiba que será coisa de cinema. A estrada que nesse trecho chileno chama-se Estrada de Los Caracoles pela sinuosidade das pistas é e dar arrepios. Eu fui duas vezes, tremi de medo mas cheguei ao destino fascinada pela beleza.


A Caracoles


Um dos trechos mais famosos da Estrada dos Caracoles, no lado chileno é um zigue-zague de arrepiar. Você vai contando as curvas até chegar à estação de esqui Portillo ou retornar dela, passando depois por um túnel. É escura, seca e de dar medo principalmente se começar a pensar no estado dos pneus do carro em que está. O contraste do azul do céu com as estrelas, os picos dos Andes e daquelas curvas ficará para sempre em sua memória.



Colaboração Jaime Borquez/ Nina Marciano Comunicação e LATAM

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