ELEIÇÃO EM TEMPOS DE PANDEMIA
ZARCILLO BARBOSA
O ser humano tem uma compulsão à repetição. Freud até já explicou. Repetir é um exercício mental desde o nascimento. Repetimos o comportamento dos nossos pais, repetimos para aprender e imitamos para fixar modelos de identificação.
Logo, repetir é imprescindível para crescer, apender e desenvolver psiquicamente.
Talvez esse comportamento humano explique a tendência dos eleitores de reeleger presidentes, prefeitos e vereadores. Desde os gregos, e nas democracias mais antigas do mundo ocidental, foi proibida a recondução a mandatos eletivos sob o argumento de que repetir por repetir é mesmo uma “compulsão”, a serviço da mesmice.
O primeiro reeleito foi Fernando Henrique Cardoso. Hoje ele se declara contra esse instituto constitucional criado no seu tempo. Dizem, à custa de “incentivos” financeiros para os congressistas. Lula experimentou da mesma receita. Dilma, também e, Bolsonaro ruma para o mesmo caminho. No passado, repetiu várias vezes que era contra. Mas, verba volant, é outra história.
Esse ritual obsessivo da repetição, sem caráter criativo, Freud conceituou de “morte psíquica”.
Bem, é só um exercício teórico. Em tempos pandêmicos, os observadores políticos asseguram que essa tendência vai se acentuar nas eleições municipais. Com tantas restrições e distanciamentos sociais obrigatórios, para não disseminar o coronavírus, a propaganda eleitoral será mais virtual do que física. Vantagem para quem já é conhecido e está no poder.
O povo, que já gosta de repetir, até como defesa contra o medo do novo, encontra mais motivações para ampliar esse automatismo mental. “Já que tem tu, vai tu mesmo” – dizem no Nordeste.
Em tempos de desemprego epidêmico, o eleitor também vai escolher aqueles que podem lhe dar vantagem pessoal. Bolsa família, renda cidadã, seja lá que nome tenha.
Lembra a crônica de Lima Barreto, do início do século 20. Eram dois eleitores. O primeiro contava estar com dificuldade para vender seu voto por cem mil réis, para determinado candidato. O segundo aconselhava-o pedir só dez mil réis, mas para cada um dos candidatos. A estratégia tornava mais fácil a venda da “mercadoria”. E permitia ganhar na quantidade. “Assim consigo arranjar mais de cem, sem ser pesado a ninguém” – concluía o personagem.
Segundo os cientistas políticos, mais de 45% do eleitorado chega no dia da eleição sem ter em quem votar. Ainda mais para vereador. Como toda ferramenta, o marketing nas redes sociais também precisa de planejamento para não virar uma colcha de retalhos de marketing convencional. Quem tem o “como fazer” nesse campo virtual, vai levar vantagem. É preciso não exagerar para não ser “cancelado” pelos operadores do Facebook, Instagram e WhatsApp. Estão de olho.
Santinhos e corpo a corpo tornaram-se quase imprestáveis como propaganda. Os tempos mudaram e o corona traça os rumos do novo normal. Quem souber se adaptar, vai levar vantagem.
