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O DIA D E A HORA H

O DIA D E A HORA H


ZARCILLO BARBOSA



As tragédias tornaram-se tão banais que o brasileiro já nem liga. Sente algum impacto no momento do noticiário da tevê e, logo depois, começa a novela e volta para o mundo da ficção.


Manaus, é a marca do horror. Os números de infectados e mortos por Covid-19 vêm subindo desde novembro e as autoridades nem se preocuparam. Pelo contrário, o comércio e o povo foram liberados para vendas, bares lotados e festejos entre familiares e desconhecidos. Como se houvesse um fim de ano a comemorar.


Epidemiologistas, infectologistas e outros cientistas emitiram alertas. O negacionismo do bolsonarismo encheu as redes de incentivos irresponsáveis à aglomeração. Resultado: os hospitais manauaras se transformaram em câmeras de asfixia.


Tardiamente, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), decretou o fechamento dos serviços  não essenciais, depois do Natal. Diante dos  protestos da população ele permitiu a reabertura. A decisão técnico-científica cedeu às razões políticas.


Na sexta-feira, a população parece que começou a se dar conta da incapacidade do governo. Houve um panelaço e buzinaço discretos em várias capitais (aqui em Bauru cheguei a ouvir) em sinal de repúdio a incapacidade do governo de gerenciar a pandemia. Principalmente com o seu ministro da Saúde, já admoestado com as mais variadas adjetivações pela imprensa e redes sociais.


Em paralelo, uma nova variante do vírus com maior facilidade de contágio se espalhou a partir do Amazonas e preocupa o mundo todo. Aqui, a nova cepa é ignorada pelas autoridades que deveriam proteger a saúde da população. O alerta sobre a mutação partiu do Japão, onde foi detectada em recém-chegados da Amazônia. Governos da Itália e Inglaterra fecharam seus aeroportos a brasileiros.


Cada vez mais, somos párias da pandemia, perante o mundo. Nem com atestados de detecção negativa do vírus eles nos querem.


As respostas são pífias. “Fizemos o que foi possível. O que está acontecendo lá,  nada tem a ver com o Governo Federal” – palavras do presidente Bolsonaro. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello desembarcou em Manaus, tardiamente, no dia 11. Tinha algum planejamento logístico? Algum plano emergencial para aumentar os números de vagas nos hospitais e UTIs abastecidas com oxigênio? Longe disso. Pazzuca foi lá pregar a necessidade do que chama de “tratamento precoce” contra o vírus, o que não existe. Hidrocloroquina, ivermectina, nada disso funciona. E também não existe outra prevenção a não ser máscara, álcool em gel e distanciamento social.


“É que está chovendo muito” – disse Pazuello. Foi mais uma saída que encontrou para justificar a mortandade. “Tristes trópicos”.


O plano do ministro para a vacinação, também não deu certo. A Índia acaba de iniciar uma campanha de vacinação para os seus 1 bilhão e 300 mil habitantes. Tem que dar prioridade para o seu povo e não pode ceder 6 milhões de frascos para o Brasil. Muito sensato. O Dia D e a Hora H do general Pazuello estão adiados. Se fosse para invadir a Normandia, os alemães teriam ganho a guerra.


Zarcillo Barbosa é jornalista
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