
Cusco
No “umbigo do mundo”
Foi num mês de junho. Exatamente na semana do meu aniversário. No mês das Festas do Sol. Viajei para Lima e de lá para Cusco e Machu Picchu com as hemácias um tanto baixas. Meu médico na época não queria me liberar para uma viagem à altas altitudes. Lembrava que os povos incas têm muito mais glóbulos vermelhos do que nós e que eu poderia sentir falta de ar. Viajei mesmo assim, embora apreensiva.
Medo que se desfez em menos de cinco minutos da decolagem. O companheiro da poltrona ao lado já havia viajado várias vezes ao Peru, com amigos motoqueiros e a turma de 4×4 da minha cidade e de cara foi garantindo que eu voltaria outra, depois de conhecer Cusco e Machu Picchu.
Não deu outra. Voltei muito mais leve, mais otimista, mais corajosa, depois de desbravar o “umbigo do mundo”. O contato com as crianças nas escadarias da Catedral, nos sítios arqueológicos, na fortaleza Sacsayhuamán e no caminho entre Águas Calientes e Machu Picchu encoraja qualquer um. Aqueles olhos negros, os trajes coloridos, as lhamas no colo como se fossem cães de estimação, são de uma singeleza de derreter corações.
Saindo de Lima
A viagem entre o Aeroporto Internacional Jorge Cháves, em Lima, e Cusco (com “s”) dura no máximo uma hora. Gente do mundo todo, com mochilas nas costas, tênis ou botas para trekking, bonés, repelentes e recipientes para água, revelam a expectativa em conhecer a cidade do Koricancha, templo dedicado ao Sol, de onde partem os trens rumo ao Vale Sagrado e a Machu Picchu.
São tantas as recomendações, que antes mesmo do check-in muitos passageiros já estão de posse das folhas de coca e das pílulas mágicas Sorochepills, tiro e queda para aliviar os problemas de altitude (soroche). Comprei numa farmácia em frente ao meu hotel em Lima, o Meliá, um estoque suficiente para distribuir no avião. Imagina a neura que eu estava!
Cusco, o centro do mundo inca, está a quase 3.500 metros de altitude acima do nível do mar (nas montanhas ao redor a altitude chega a 3.800 metros). A aterrissagem, portanto, já é um capítulo à parte. Na verdade, a aeronave não faz todo do aquele procedimento de descida que nos deixa muitas vezes surdos ou com o ouvido entupido. Mantém-se nivelados, numa altitude compatível com as pistas do aeroporto. Por isso, a pressão auditiva não é sentida. Converse com um piloto que ele explicará o procedimento de aterrissagem, nesse caso, um pouso nas alturas.
Mudanças climáticas
Antes, durante ou depois do voo, todas as recomendações são válidas, por se tratar de um lugar muito alto. Um folheto distribuído no aeroporto – os japoneses são os que mais prestam atenção chegando bem antes do voo já munidos de todos os apetrechos para o sobe e desce lá em Machu Picchu e até mesmo bombinhas de oxigênio – traz as seguintes recomendações: “Estimado Pasajero, el aeropuerto de Cusco se encuentra ubicado a uma altura de 3.400 msn la cual determina câmbios inesperados del clima. Dichos câmbios, generan variaciones em la velocidade del viento y en la temperatura del aeropuerto, afectando la capacidade de pasajeros y carga de las aeronaves. Ante esta situación, le sugerimos consultar com sua companhia aérea para que coordene los detalies de su viaje de retorno”.
Ou seja, como a altitude determina mudanças, para não perder o voo de retorno, é preciso checar tudo, bem antes.
A catedral e o convento
A Catedral de Santo Domingo, na praça central de Cusco, é um dos principais atrativos turísticos da cidade. Foi construída a mando do conquistador espanhol Francisco Pizarro no século 17, sobre os alicerces do Koricancha, o templo dedicado ao Deus Sol, com paredes cobertas de ouro.
Os espanhóis levaram quase tudo, mas ainda restam vestígios desse período glorioso. Contrate um guia já em Lima que lhe acompanhará na viagem para lhe contar toda a história do templo e dos povos que viveram em Cusco.
A cidade é conhecida como “umbigo do mundo”, porque sempre foi ponto de encontro de muitos povos. Antigas civilizações e agora de uma legião de turistas de todas as partes que se encontra na sua praça central. A antiga capital do império pré-colombiano guarda vestígios da civilização inca, mas também traços da arquitetura espanhola. Basta dar uma volta por suas ruas principais para perceber essa miscigenação.
A lenda do Titicaca
A origem da cidade remonta a Manco Copac e Mama Ocllo, que a pedido do Deus Sol emergem das águas do Lago Titicaca, na Bolívia, para fundar a cidade. Cusco foi capital do império inca e tornou-se o principal centro turístico do Peru.
Na época da colonização inca, a cidade prosperou muito, ganhando praças, santuários, templos, fontes e fortalezas espetaculares que ainda hoje podem ser visitadas. Tudo acabou quando os espanhóis comandados por Francisco Pizarro (ele soube no México que havia muito ouro no Peru) chegaram destruindo boa parte do que havia sido erguido, em 1533. Os colonizadores não pouparam quase nada das paredes e objetos, mas usaram as estruturas muito firmes e bem-feitas dos incas como alicerces para erguer suas igrejas e conventos.
Ou seja, a base continuou sendo inca e por cima a arquitetura colonial espanhola. O exemplo mais conhecido é o do Convento São Domingo, edificado sobre o Koricancha que tinha muros recobertos com ouro. Os espanhóis utilizaram a antiga estrutura de pedra polida como base para a construção atual que mantém os arcos renascentistas e uma torre barroca.

O Convento de Santo Domingo, construído sobre o Templo Koricancha, mantendo sua estrutura (divulgação internet)
A pedra da Rua Hatun Rumiyoc
Depois de visitar o convento, parta para a rua Hatun Rumiyoc que é repleta de turistas e que leva a uma das principais atrações da cidade: a pedra de 12 ângulos.
É uma aula de arqueologia conhecer essa atração que faz parte do muro que formava um antigo palácio. Os guias explicam estar ali a razão para o domínio arquitetônico dos incas, que conseguiam subir imensas paredes e templos utilizando apenas a técnica de encaixe. Pedra sobre pedra, pedra encaixada com pedra, em vários ângulos, chegando aos 12 da pedra famosa. Com isso suas construções conseguiam resistir a tempestades, terremotos e qualquer e outras forças da natureza.
A rua leva a todos até o bairro de San Blas, lindo, com os Andes como pano de fundo. Ali você vai interagir com gente do mundo todo e tem os mais diversos planos para chegar a Machu Picchu. A maioria segue de trem até Águas Calientes. Outros fazem a caminhada de 42 km cruzando o rio Urubamba, o que leva quatro dias em média com visão mágica de desfiladeiros e penhascos.
Pegue leve!
O soroche, como os peruanos chamam o mal-estar provocado pela altitude, não é frescura! Reserve pelo menos quatro dias para conhecer Cusco e suas imediações. O primeiro dia é praticamente perdido por conta do processo de aclimatação à altitude.
Quase 90%dos turistas que chegam a Cusco passam mal. Dor de cabeça, enjoo, vômito são comuns caso não se faça exatamente o que os guias recomendam: “vá com calma. Não ande rápido. Sente a cada esquina. Tente dormir pelo menos duas horas ao chegar no hotel, beba muita água e tome chá de coca várias vezes”.
Se estiver se sentindo bem, visite, no dia da chegada, apenas o centro histórico e deixe os sítios arqueológicos para os demais.
São muitos os pontos de interesse por lá: Igreja San Cristóbal, Igreja Santa Teresa, Catedral, San Blas, La Compañia, Santa Catalina, La Merced, Santo Domingo Templo del Sol, San Francisco, Santa Clara, San Pedro, Piedra de Los 12 Ângulos, Casa de Garcilaso, Monastério de Nazarenas, Centro Qosqo de Arte Nativo e a Oficina Atencion Al Turista, além dos museus de Arte Religioso, Inca e Arte Precolombino.
Se a fome bater – no primeiro dia aconselha-se apenas pratos leves e muito líquido – vá a um dos restaurantes da Plaza de Armas e arredores, como o Incanto e o Inka Grill, dos mesmos donos. Foi ali que comi. O lomo saltado custa em torno de 40 nuevos soles e a coca-cola light, 5. Deixe pisco souer e cerveja para os outros dias da viagem. Só tomei álcool depois de dois dias.
Antiga e apaixonante
Cusco – seu nome original é Qosqo – é a cidade mais antiga do continente sul americano. Por ser hoje essencialmente turística, conta com uma invejável rede de hotéis, restaurantes de primeira e agências de viagem dotadas de toda infra-estrutura.
O Libertador – Palacio del Inka (libertador.com.pe/hotel/palacio-del-inka) localizado na Plazoleta, Santo Domingo, 259, é digno de todos os elogios. Foi lá que me hospedei e comprei um casaco azul-marinho que usei na viagem a Machu Picchu, quente e impermeável. Fica em local privilegiado, ao lado do Templo do Sol Santo Domingo, onde os turistas conhecem detalhes da arquitetura de encaixe de pedras.
Também na região central de Cusco, na Plaza de Las Nazarenas, fica o Inkaterra – La Casona (www.inkaterra.com/inkaterra-la-casona) reconhecido pela publicação National Geographic na categoria “Unique Lodges of the World”. Esta categoria certifica hotéis que oferecem experiências singulares, além de suas relações com as comunidades locais e seus esforços para manter a salvo o ecossistema local (www.nationalgeographiclodges.com/inkaterra-hacienda-la-casona).
Sítios arqueológicos e curiosidades
Passado o efeito ou o medo do soroche, procure desvendar Cusco com guia credenciado pelo turismo peruano.
Nos sítios arqueológicos ao redor da cidade descobre-se, entre muitas outras curiosidades, que o império inca tinha muito mais ouro do que os astecas e os maias (que habitaram o México) jamais possuíram, o que motivou Francisco Pizarro a desbravar suas terras. Mantinham as regiões conquistadas não só pela força, mas pela imposição de sua tradição religiosa. Sabiam estocar batatas e outros vegetais desidratados, para longos períodos de escassez.
Antes do casamento, um casal inca passava por uma fase de experiência, uma espécie de teste de afinidades. Nesse período, a mulher tomava um chá anticoncepcional para não engravidar.
Os filhos do sol
Templos e sítios arqueológicos que chamam a atenção pelo encaixe preciso de pedras imensas cercam a cidade e podem ser visitados com guia e autorização especial.
Provam como os incas e os povos que os antecederam eram evoluídos em todos os aspectos. Os “filhos do sol” constituíram o maior império das Américas, que se estendia do Equador à Argentina, e cujos antepassados utilizavam uma técnica de mumificação 2.000 anos mais antiga que a dos egípcios.
Uma das festas mais lindas de Cusco é realizada no mês de junho, durante o solstício de inverno. A festa do Deus do Sol, chamada Inti Raymi, marca o início do ano novo do sol e ocorre geralmente entre 21 e 24 de junho, começando no Koricancha (Templo do Sol), seguindo para a Praça de Armas e depois rumo ao sítio arqueológico de Sacsayhuaman, onde acontece a cerimônia principal.
Dizem que o Inti Raymi era o mais importante festival do império inca. Eram 9 dias de cerimônias, sacrifícios e danças. O último Inti Raymi com a presença do imperador inca foi realizado em 1535. Em 1572 a festividade foi proibida por Francisco de Toledo, vice-rei do país, que a considerava uma cerimônia pagã e contrária à fé católica, mas há relatos de que ainda ocorria, de forma clandestina.
Em 1944 o Inti Raymi foi reconstituído, com base em dados históricos e relatos do escritor inca Garcilaso de la Vejapor (1539-1616), ocorrendo anualmente até hoje como uma linda e importante cerimônia religiosa. Os participantes clamam pelo retorno do Sol, enquanto uma multidão contempla a festa. Se quiser ir em 2017 faça a reserva agora, pois os hotéis lotam.
Os incas: engenheiros, agricultores e médicos
Os incas eram tão evoluídos para seu tempo que conseguiram, a quase 4 mil metros de altitude e em meio a um clima seco e árido, cultivar diversos vegetais, irrigando a terra com água das montanhas. Foram ainda hábeis construtores edificando terraços nas encostas. Estudavam as estrelas e faziam cirurgias.
Cusco, Patrimônio Cultural da Humanidade, fundada por volta dos séculos 11 e 12 por Manco Cópac, passou para o domínio espanhol, no século 17, quando Francisco Pizarro, invadiu aquelas terras, saindo do México, à procura de ouro (em Lima não deixe de visitar o Museu do Ouro para ter uma noção da quantidade do metal nobre naquele país).
Pizarro derrotou o imperador inca Atahualpa e seu exército e depois fundou, sobre os escombros do templo Koricancha, uma cidade espanhola. Por conta disso, Cusco é uma cidade única no mundo, reunindo arquitetura indígena e colonial espanhola, traços das duas grandes culturas dominantes: inca e ibérica.
Não deixe de ver:
Plaza de Armas – fundada por Manco Cópac, a praça era chamada de Wascaypata – junção das palavras choro e lamento no idioma quechua. Ali, antes de Pizarro, eram realizadas as cerimônias religiosas. Hoje é o centro de encontro dos turistas que vão a Cusco, reunindo hotéis, restaurantes, lojas de souvenir, casas de câmbio e boates.
Igreja de Santo Domingo – construída com pedras do antigo Templo do Sol.
Igreja de São Francisco – com notórias influências indígenas.
Igreja da Companhia de Jesus – construída sobre o Templo das Serpentes de Amarucancha, com pinturas religiosas no claustro.
Templo de Viracocha (ou Raqchi) – o principal muro da ruína tem 92 metros de largura e 25 de altura e evidencia que o templo tinha dois pisos, com portas na parte de baixo e janelas em cima. Além do templo, o complexo de Raqchi tem outras áreas destinadas a funções específicas, como as “colcas”, estruturas arredondadas com teto de palha que funcionavam para armazenagem de alimentos.
Templo da Lua – na entrada do templo (que é uma caverna) há animais entalhados nas paredes rochosas. No interior há uma mesa de pedra sob uma fenda no teto que permite a entrada de luz natural. Provavelmente ali aconteciam cerimônias religiosas.
Museu de Arte Pré-Colombiana (Museu Larco) – a mais importante coleção de cerâmicas e jóias das antigas culturas peruanas, incluindo peças de erotismo. Está localizado no centro de Cusco, em um charmoso casarão do século XVIII, construído sobre uma pirâmide inca do século IX.
Bairro de San Blás – de onde avista-se toda a cidade. Aproveite para depois, no bairro dos artesãos, conferir o representativo mercado de arte popular e pinturas cusquenhas.
Vale Sagrado – região composta por diversos povoados ao longo do Rio Urubamba, entre Písac e Ollantaytambo. Em Písac os turistas encontram uma típica aldeia andina repleta de vestígios de arquitetura inca. Dizem que era um centro administrativo e foi construído com arquitetura especial para evitar possíveis danos provocados por abalos sísmicos. Também se destacam os buracos feitos nas montanhas para depositar mortos e corpos mumificados. Aproveite para jantar ao som das flautas dos músicos cusquenhos.
Q’enco – perto de Cusco, exibe esculturas incas em rochedos maciços. Pumas, condores e lhamas estão lá retratados.
Sacsayhuamán – ao redor da cidade, são imponentes os vestígios arqueológicos e arquitetônicos. Cusco foi originalmente construída com a forma de um puma, sendo a cidade o corpo do animal e Sacsayhuamán a cabeça. Suas muralhas em zigue-zague representam os dentes do puma. Lá é realizada a principal cerimônia da Festa do Sol.
Puka Pukará e Tambomachay – são, assim como Sacsayhuaman e Q’enqo, outros monumentos arqueológicos dignos de visita.

Tambomachay: sistema de aquedutos desenvolvido pelos incas que canaliza água de um lago a 25 km de distância
Formato de um puma
Cusco foi a primeira capital do Peru, muito antes de Lima. Foi o centro de convergência do povo peruano. Para esta cidade sagrada todos os incas deveriam peregrinar pelo menos uma vez na vida. Uma Meca na América Latina.
Originalmente, a cidade tinha a forma de um grande puma (animal maior que a lhama) e era centro religioso, administrativo e militar do império. Muito diferente de Machu Picchu, um lugar sagrado, reservado, secreto, de adoração.
Há tempos, descendentes dos índios quíchuas, aimarás e mapuches que habitam Cusco reivindicam a devolução do templo e do convento de São Francisco, construído ao lado, repleto de obras de arte, incluindo uma alegoria da Santa Ceia, de Michelangelo, em que Judas é representado por Pizarro, o exterminador inca, conquistador espanhol.
Todos os peruanos e em especial os cusquenhos são amáveis, doces, muito queridos. Vivem de seu trabalho, de seu artesanato. Querem vender seus produtos, mostrar sua música, oferecer o melhor de sua hospitalidade.
Mesmo que você não seja de fazer compras em viagens, acabará trazendo para casa algumas peças do colorido e rico artesanato peruano. E, claro, posará para fotos ao lado das crianças e das cholas (mulheres com trajes típicos peruanos) que ficam nas praças e em frente às igrejas vendendo seus produtos. Não deixe de comprar, pois são muito baratos e agradarão os amigos e parentes.
O som a 3.750 metros de altitude
“Propina, propina…” O pedido soa tão suave nos ouvidos quando se está a 3.750 metros de altura – nos arredores de Cusco – que parece ter vindo do céu. São crianças oferecendo artesanato e insistindo para que você tire fotos com elas e suas lhamas. Lembre-se que esta pode ser sua última chance de trazer uma recordação do Vale Sagrado, seja em forma de manta, boneca, bolsa, colar ou imagem.
Visitando os “pueblos” e os cães andinos
Dizem, lá em Cusco, que existem quatro cães para cada família. Deve ser verdade porque eles se espalham pelas vilas, encostas e periferia. Além desses animais altamente sociáveis que se adaptaram à altitude e têm uma pelagem especial para suportar o frio, que nas madrugadas chega a zero grau, lhamas, guanacos e alpacas estão por toda parte.
A imagem lembra um presépio se vista de baixo para cima, complementada com as cores fortes impregnadas nas vestimentas dos povos andinos. É impressionante como eles têm bom gosto e conseguem coordenar verde com vermelho, amarelo com azul. Um mosaico, lindo.
Depois de conhecer o Centro Histórico e tomar sol na Praça das Armas, procure um guia para conhecer os sítios arqueológicos de Cusco. Passeio que necessariamente levará o visitante a interagir com animais e gente nos “pueblos” simpáticos espalhados pelos entornos das montanhas.
Em cada parada há possibilidade de se comprar o rico e variado artesanato peruano, por preços bem acessíveis ou de se comer churros maravilhosos, bem diferentes dos nossos, servidos em barzinhos modestos, mas incrivelmente limpos. As empanadas também são de dar água na boca, servidas fresquinhas, recém saídas de fornos à lenha.
Mulheres, homens e crianças praticamente se jogam em cima dos turistas para mostrar seus produtos. “Eu mesmo que fiz senhorita…” “Quanto me dá senhorita?…” “Meu nome é Pablo, senhorita… Jura que não vai se esquecer!”… são frases usuais pelo caminho.
Uma mochila custa em torno de 12 soles, uma manta, 20, bonequinhas, 05… Já objetos de prata são vendidos em dólar. Uma correntinha sai por cerca de 10 dólares, pingentes por 15 e brincos, dependendo do tamanho e complementos, a partir de 12 dólares.
Nos “pueblos” vizinhos a Cusco também há festas, feiras de trocas e muita alegria, principalmente aos domingos. Uma festa em meio a ruelas de pedra e rípio. Moradores com feições indígenas se divertem trocando mercadorias com os visitantes.
Batata é o que não falta nas mais diversas formas e sabores, assim como milho – no Peru existe as mais diversas variedades, incluindo coloridos – brancos, vermelhos, pretos, roxos – com grãos enormes e saborosos. Os incas pregavam que quem comesse milho teria ouvidos para a voz do espírito, aprenderia a voar nos sonhos para lugares distantes e a cuidar de toda vida na terra.

Batata, milho e outros tubérculos são encontrados em todos os mercados do Vale Sagrado (divulgação internet)
O clima dos Andes é propício ao cultivo de vários tipos de tubérculos usados para uma variedade de pratos, incluindo purês. A batata é um dos alimentos mais antigos do mundo, cultivada há muito tempo pelos incas.
Embora não se possa trazer comestíveis na mala, aproveite para comprar balas, chás e folha de coca, o elixir das montanhas. E, claro, pisco souer, o destilado para ser servido com limão espremido, clara de ovo batida em neve e açúcar, que tem um gostinho todo especial lembrando nossa caipirinha.
Cerâmicas e ponchos
Os povos andinos são muito religiosos. Se você comprar uma peça tenha certeza de que terá sorte, pelo menos enquanto estiver no Peru. As cerâmicas – muitas reproduzindo os principais desenhos indígenas – fazem o maior sucesso, assim como os ponchos e as peças trabalhadas em lã, como luvas, gorros e suéteres.
Se quiser um produto diferenciado, mais caro, procure pela lã de alpaca – a carne também é servida nos restaurantes de Cusco. Já a de lhama – o animal adulto – é mais dura e, portanto, mais acessível aos bolsos.
Fonte de renda
O Peru tem no turismo a sua segunda fonte de renda (atrás da extração mineral e à frente da pesca). Por isso faz questão de receber e muito bem os visitantes, com uma infraestrutura invejável. Quase um milhão de pessoas passam por suas principais atrações por ano, com os brasileiros ainda engatinhando: são menos de 50 mil ao ano.
A moeda oficial peruana é o Novo Sol. Circulam oficialmente moedas de 1, 2 e 5 Novos Soles e de 5, 10, 20 e 50 centavos. Todos os bancos e a maioria dos hotéis, restaurantes, lojas e casas de câmbio oferecem serviços monetários. A maioria dos estabelecimentos aceitam os cartões Visa, Master Card, Diners e American Express.
*Texto: Eliane Barbosa