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O CAOS ELEITORAL NOS ESTADOS UNIDOS

O CAOS ELEITORAL NOS ESTADOS UNIDOS

ZARCILLO BARBOSA


A “teoria do incumbente” desenvolvida pelos cientistas políticos, segundo a qual quem está “incumbido”, ou seja, aquele que já detém o mandato leva vantagem e se reelege, desta vez não funcionou. O democrata Joe Biden foi eleito o 46º presidente dos Estados Unidos na tarde deste sábado.


O surpreendente para os brasileiros, não foi o resultado da eleição, mas a reação de Trump proclamando vitória diante da derrota eminente. Para um país reconhecido como a “maior potência econômica do mundo”, que tanto se esforça por propagar o seu modelo de democracia, as demonstrações de anacronismo do seu sistema eleitoral deram um triste espetáculo.


A contagem de votos demorada deixou o Ocidente pendurado no noticiário, à espera de uma definição. O (ainda) presidente norte-americano cumprindo suas tendências piromaníacas, ainda esperneia querendo levar à Suprema Corte denúncias de fraudes inexistentes.


Uma recente manchete do “Le Monde” não podia ser mais explícita: “Os Estados Unidos estão se despedaçando”. Segundo o jornal francês, Donald Trump, vendo-se perdido colocou em marcha uma verdadeira “estratégia do caos”.


Felizmente, nem os seus advogados se arriscam a participar de um espetáculo burlesco, ainda mais patrocinando esse personagem reconhecido pelo topete cor-de-laranja.


Estranho, muito estranho… diria o Zagalo. Sempre admitimos que líderes como Trump fossem produto exclusivo do Terceiro Mundo. Um louco isolado não é perigoso. Acontece que, como estas eleições vieram demonstrar, Trump tem milhões ao lado dele.


Grande parte da sociedade americana branca ainda é abertamente racista, machista, brutal, preconceituosa e misógina.


Ainda está longe a hipótese da queda de Trump representar a decadência do neoconservadorismo de direita em todo o mundo.


O mesmo poderá ocorrer com Bolsonaro e a extrema direita no Brasil?


A resposta não virá tão cedo, mas o presidente brasileiro trata de descolar-se da imagem do colega norte-americano.


O resultado eleitoral consagra um ineditismo: a vice-presidente Kamala Harris é a primeira mulher no cargo. A senadora de origem indiana e jamaicana é também a primeira pessoa negra e de origem asiática a ser eleita para a Vice-Presidência.


Aqui no Brasil, as eleições municipais do próximo dia 15 não serão o teste decisivo para os rumos políticos do país. A pandemia esvaziou as campanhas, chochas demais para alimentar qualquer análise. Nem sequer fake-news.


A única coisa certa é que o bolsonarismo não vai se consolidar nesta eleição, e muito menos, expandir a sua capacidade de captura institucional.


Mas, nada impedirá que o bolsonarismo tenha sobrevida para além do desgaste da família do presidente, mesmo sem partido.


A letargia dos partidos de esquerda e centro-esquerda impediu o surgimento de novas lideranças com potencial eleitoral. Para piorar, não parece haver um trabalho consciente de estruturação de base da oposição para se contrapor ao bolsonarismo, principalmente em municípios do interior.


Em sua fala imortal, o presidente Bolsonaro conseguiu, sem querer, sintetizar o nível das eleições municipais: “ Quem é de direita, toma cloroquina, quem é de esquerda, toma tubaína”. E estamos conversados.


Zarcillo Barbosa é jornalista
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