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AMSTERDÃ, FLORES E CERVEJA

AMSTERDÃ, FLORES E CERVEJA

ZARCILLO BARBOSA
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O tupiniquim, quando viaja para fora do país, fica impressionado com a grandiosidade dos shoppings centers dos países chamados de “desenvolvidos”. São verdadeiros templos de consumo.


Em Las Vegas, o Caesar’s Palace reúne um complexo hoteleiro com centros de compras e praças de alimentação. Inclui-se, no conjunto arquitetônico, uma “piazza” italiana, com fontes de águas jorrantes e esculturas belíssimas.


As cantinas servem massas nas mesas ao “ar livre”.  Na verdade, sob uma cobertura criada para dar essa impressão. O “céu” muda de cor a cada poucos minutos para dar às pessoas a ilusão de estarem de fato comendo na rua.


Esse tipo de equipamento urbano foi inspirado no Grande Bazar de Istambul, construído no século 15 e, ao que consta, possui 4 mil lojas. Não cheguei a contar, mas percebi que é enorme. Tem até café expresso, nos moldes dos shoppings ocidentais, ao lado das tradicionais casas de chá de maçã, onde os nativos fumam no narguilé.

 
Aqui em Amsterdã, onde estou a convite da minha filha, os holandeses não estão nem aí para shoppings. Devem existir, mas nos cruzamentos das autoestradas. Às 5 da tarde eles encerram o expediente nas fábricas, escritórios e repartições e saem para curtir a cidade, como um todo. Eles estão na era pós-industrial. Ninguém de paletó e gravata.


Os edifícios aqui, são de poucos andares, o que contribui para que não seja uma cidade opressiva. Plana e compacta, Amsterdã tem 500 quilômetros de ciclovias. Diariamente, 550 mil dos seus 800 mil habitantes se deslocam de bicicleta. A gente, que é de Bauru, atravessa a rua e pensa que está livre de acidentes e cai na ciclovia, que é ainda mais movimentada. É preciso prestar atenção nas mudanças do semáforo das bicicletas.


Ainda bem que os locais têm tolerância e senso de humor para lidar com os forasteiros. Parece que eles farejam um turista a quilômetros de distância e já se preparam para desviar do “mané”.


Disseram-me que há modernices nos bairros periféricos. Mas, no Centro Histórico, a cidade preserva os poéticos canais ladeados de casarões de telhados pontudos. Parecem, mas não são iguais. Além deles, existem as casas-barco, ancoradas no Rio Amstel. São quase cem quilômetros de canais, como anéis de água que envolvem a cidade. Flores para todos os cantos, tulipas de todas as cores. E cerveja, com certeza. Terra da Heineken.


A Holanda está quase toda abaixo do nível do mar. Os canais fazem parte de um sistema de diques, sem os quais a cidade iria por água abaixo, literalmente.


Os moradores de Amsterdã costumam dizer que a metrópole tem 800 mil prefeitos. Em todos os bares e cafés, nas praças e outros espaços públicos, eles se reúnem em grupos para palpitar e discutir sobre tudo  que diga respeito às questões urbanas.


Depois da reforma do Rijksmuseum, onde está a mais famosa obra de Rembrandt, A Ronda Noturna, os próprios moradores decidiram proibir a passagem de bicicletas pelos arcos que atravessam o prédio, que é de 1885. Justamente para preservar os turistas desatentos.


Outro museu importante é o de Van Gogh, que reúne o maior acervo do pintor holandês. Todos os museus – mais de cem na área – são dirigidos pela comunidade organizada. A casa onde Anne Frank se escondeu dos nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial, está intacta porque, terminado o conflito, o povo não deixou que a derrubassem.


Shopping Centers? Só na periferia, além dos campos de tulipas e desde que não perturbem as vacas, maiores responsáveis pelos queijos Gouda e Edam


Evidentemente, as vacas são todas holandesas.


Zarcillo Barbosa é jornalista
proximarota
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