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MUITO ALÉM DA IDEOLOGIA

MUITO ALÉM DA IDEOLOGIA

ZARCILLO BARBOSA
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O momento político põe em relevo a palavra “ideologia”, muitas vezes significando, apenas, uma expressão para desqualificar adversários ou, até mesmo, decisões da Suprema Corte.



Pôr na conta da “ideologia” também serve para tentar confundir calúnia com liberdade de expressão; fascismo com democracia; e legitimar atos terroristas como se fossem produtos da manifestação da vontade nacional.


Esquerda e direita, em termos gerais, se referem a posições ideológicas que valorizam o papel do mercado e do setor privado, no caso da direita, e enfatizam a necessidade de intenção pública para limitar os efeitos da desigualdade social e da pobreza, no caso da esquerda. Em meio a pandemia, ideais da esquerda e da direita estão se misturando com seus defeitos e virtudes. Não dá para deixar que o mercado resolva os problemas econômicos das empresas e deixar a população passar fome, ou sem atendimento à saúde.


Mesmo em tempos de normalidade, nenhum partido de direita europeu questionava o sistema nacional de saúde pública universal. Só nos Estados Unidos ele inexiste, e até dentro da esquerda é uma reivindicação que somente agora começa a ser mais amplamente aceita.


Por sua vez, há anos nenhum partido de esquerda se propõe mais a abolir o mercado. A China só tem governo comunista. Age de acordo com as regras do livre comércio.


O que existe, na realidade, são partidos democráticos de centro-direita e de centro-esquerda. Para ficar mais claro, temos uma esquerda e direita democráticas e esquerda e direita antidemocráticas.


No Brasil, com o desastroso Weintrauber premiado com um bem remunerado emprego no Banco Mundial, a principal bandeira da nova direita não é o liberalismo econômico, e sim a reacionarismo cultural.


A nova direita promove um nacionalismo xenofóbico, se opõe a instituições em áreas como meio ambiente e direitos humanos. Ataca os direitos das minorias, a autonomia do Judiciário, a imprensa livre e as organizações da sociedade civil.  Idealiza o passado, em particular no campo da cultura e dos costumes – quando “as mulheres sabiam seu lugar” e os homossexuais eram marginalizados.


A nova direita promove um discurso anti-intelectual. O próprio ex-ministro da Educação não conhece o idioma pátrio, e nem se sabe como vai se virar no Banco Mundial, em Washington, arranhando o inglês.


O chamado “gabinete do ódio”, em fase de desmonte, tinha seu bunker o próprio Palácio do Planalto. Sua missão: substituir argumento por fake ou hate News (notícias falsas ou de ódio), transformando política em guerra. Qualquer oposição é tratada por inimiga. Quem discorda é considerado traidor.


As eleições municipais serão uma ótima oportunidade para afastar as idiossincrasias ideológicas. Temos que começar, desde já, a resgatar candidatos compromissados com a democracia. Não dá para viver com o obscurantismo de governos com perfil teocrático ou autocrático.


Seria ingenuidade acreditar que as Forças Armadas possam abandonar seu papel histórico na defesa da Nação, para livrar a cara dos filhos do presidente Bolsonaro. “Quem pariu os teus que embale” (Mateus é um santo apóstolo evangelista e não tem nada com isso).

Zarcillo Barbosa é jornalista
proximarota
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