
A TODOS, TODAS E TODES
ZARCILLO BARBOSA
Está na moda a chamada “linguagem neutra”, também chamada de “linguagem inclusiva”. Mesmo nos discursos oficiais de posse de ministros do governo Lula, tornou-se comum eles se dirigirem a parlamentares “eleites”, emendando um sonoro “Boa noite a todos, a todas e todes. A galera aplaude.
A linguagem neutra é criticada por alguns gramáticos. O governo Bolsonaro chegou a proibir o uso da ferramenta em projetos financiados pela Lei Rouanet. Essa linguagem contempla as pessoas que não se identificam nem com o gênero feminino e nem com o masculino.
Eles, elas, ou “elus” fogem do padrão meninos vestem azul e meninas, cor-de-rosa.
A discussão chegou ao Supremo Tribunal Federal, que suspendeu os efeitos de uma lei de Rondônia, que proibia o uso dessa linguagem neutra nas escolas do estado. Em seu relatório, o ministro Luiz Fachin disse ver risco “imenso” dessa lei calar “professores, professoras, alunos e alunas”. Outras três unidades da federação também já vinham adotando a proibição de botar sexo nas palavras.
Aprendi nos bancos escolares que na língua portuguesa, a palavra “todos” (portanto no masculino) é usada para se referir a grupos mistos, compostos de homens e mulheres. Na igreja o padre dizia que Jesus veio à terra para a salvação dos “homens” – comum de dois.
A linguagem neutra evita essa binaridade entre gêneros feminino e masculino. Há aquele que não se sente nem homem e nem mulher. Então é “todes”. Falar que é errado porque não está no dicionário e contraria a norma, simplifica e reduz uma questão muito mais complexa.
O Português, como idioma, vem do latim vulgar. Espécie de “nóis vai”, “nóis fumo”, “nóis vortemo” do tempo em que os romanos dominaram a Península Ibérica. Nossa língua é produto do falar descuidado da soldadesca e mal apreendida pelos habitantes das aldeias conquistadas pelas legiões de César.
Em tempos atuais, milhares de palavras têm sido acrescentadas ao dicionário. Site deveria ser sítio, no sentido de domínio, mas não pegou. Os portugueses, mais conservadores, chamam mouse de rato, mesmo. O verbo deletar, há alguns anos, nem era cogitado.
A linguagem neutra esconde um sentido político muito ativo, que é o de dar visibilidade a um terceiro grupo. Lésbicas, gays, transgêneros, queer, intersexuais, assexuais, pansexuais, historicamente submetidos a perseguições e violências, sem nenhum direito, estão ganhando lugar e respeito. Orientações sexuais existem as mais diversas. Haviam catalogado 94, há dois anos. Há até os cisgêneros, condição da pessoa cuja identidade ou gênero corresponde àquele atribuído no Cartório, ou na pia batismal logo após o nascimento. Existe também o autossexual, aquele que se ama. Basta-se a si mesmo.
Seria fácil resolver esses melindres de antibinários sem grandes agressões. Em vez de dizer “os diretores”, diga-se “a diretoria”. É só trocar “os deputados” por “a Câmara”. “Nossos funcionários”, chame-os de “pessoas que trabalham na empresa”. E contemplamos todos.
Os estudiosos concordam que as mudanças gramaticais e lexicais que triunfaram na história da nossa língua, não foram definidas por instâncias superiores, mas surgiram espontaneamente entre os falantes.
Se realmente o gênero neutro vai se impor, é outra história. O importante é manter a língua em transformação, ativa, vibrante, capaz de traduzir mudanças culturais e comportamentais.
O resto, como dizia o saudoso Mussum, de “Os Trapalhões”, o resto é “frescuris”.
Bruno Gil
Grande Zarcillo Barbosa! Admirável sua postura perante este assunto polêmico, mas que não deveria ser nesta acentuação. Falar de pronome neutro é simplesmente respeitar seu próximo. Se alguém quiser ser chamado por “elu”, você deixará de respeitar essa pessoa por simplesmente não concordar com a usabilidade deste pronome?
Seria muito mais fácil se cada um tomasse conta de sua própria vida e respeitasse seu próximo. Mas sabemos que a população não está preparada para esta conversa.
Enfim a hipocrisia.
Parabéns, Zarcillo! Brilhante! ????????