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A SÍNDROME DO PAPEL HIGIÊNICO

A SÍNDROME DO PAPEL HIGIÊNICO

ZARCILLO BARBOSA
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Os fisiologistas querem saber o porquê dessa procura desenfreada por papel higiênico. Esse comportamento é global, não se trata de um fenômeno brasileiro que tem a mania de estocar tudo, mesmo o que não é necessário, com medo de que vá faltar.


Fisiologista é o cara que estuda as múltiplas funções mecânicas, físicas e bioquímicas dos seres vivos. Trocando em miúdos: o profissional do ramo da biologia que quer saber tudo sobre o funcionamento do organismo.


Descobriram que as pesquisas iniciadas deveriam ser entregues aos psicólogos behavioristas. Seria uma temática apropriada para quem se dedica a estudar o comportamento humano. Essa gana para lotar carrinhos de supermercado com centenas de rolos de papel higiênico, tomou conta da Espanha, Hong Kong, Estados Unidos, Reino Unido, Singapura e Austrália.


Em Portugal foram produzidos vários vídeos exibidos nas redes sociais, com a informação básica e direta aos conterrâneos: “coronavírus não dá caganeira”. O que nós chamamos de bunda, para os amigos lusitano é c… Simplesmente.


Asseguram os psicólogos que essa mania nasceu com os celulares. As fábricas lançam modelos novos todos os anos e, a cada anúncio de venda inaugural, filas imensas se formam na porta das lojas especializadas. Eles chamam esse comportamento de “fear of missing out”, ou seja, medo do que acontecerá se eu não tiver o que os outros têm. Muito apropriado às sociedades consumistas.


Em momentos de estresse, como o produzido pelo drama do coronavírus, o fenômeno acontece. É uma questão mais emocional que racional. Ocorreu nos períodos de guerras mundiais. O problema se repete sazonalmente, nos países onde ocorrem nevascas e furacões. Basta o serviço de meteorologia anunciar mudanças drásticas no tempo e saem todos para comprar toneladas de mercadorias nos supermercados. No período de “guerra fria”, os muito ricos construíam bunkers no subsolo de suas mansões. Todos eles com alimentos enlatados e desidratados, para aguentar até por anos o “day after” de uma hecatombe atômica. O curioso é que, nessas ocasiões, os produtos associados ao nosso bem-estar e à limpeza são os mais valorizados.


Se o consumidor percebe vazios nas prateleiras dos supermercados, as compras se intensificam. Quanto mais faltam itens, uma necessidade urgente de consegui-los se produz na cabeça do consumidor.


O coronavírus só é invisível para quem não quer ver. Há os que preconizam que o mundo será diferente depois dessa onda pandêmica. As novas gerações serão educadas para o consumo responsável. Haverá mais confiança na ciência e em novas lideranças políticas. Por ignorarem os cientistas, o povo foi colocado em risco. Governos gastam mais em armas do que com a saúde. O mundo gastou 1 trilhão e 800 bilhões de dólares com o setor militar, no ano passado. Para lidar com o vírus, foram alocados 7 bilhões de dólares.


O que preocupa os cientistas sociais é o destino dos mais pobres. Os ricos, mesmo de quarentena, têm possibilidade de acesso a tecnologias.


Até os animais de estimação estão sendo abandonados pelo temor, sem fundamento científico ou médico, de que podem se contagiar. Nos países asiáticos, cães e gatos já são abandonados ou sacrificados, atirados pela janela. Há quem acredite que vão acabar abandonando os idosos e os mais vulneráveis. Seria um clima caótico de “salve-se quem puder”. Mas não vamos chegar a tanto. Seria descrer do processo civilizatório de séculos. A negação da própria “raça” humana.


Tudo vai passar. O cuidado com os mais idosos e com os animais de estimação são, justamente, os que não nos deixam cair em depressão, neste período de isolamento.


Zarcillo Barbosa é jornalista
proximarota
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