
A REPÚBLICA, PELO AVESSO
ZARCILLO BARBOSA
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A República não se proclamou “no berro”. O marechal Deodoro, doente, com dificuldades para respirar (dispneia), sequer teria condições de dar um grito, como aquele do Ipiranga, que também ninguém sabe se foi dado.
O militar que aparece nos livros de história, sequer teria ânimo para montar o cavalo. Deodoro era imperialista juramentado. Decidiu sair da cama, reuniu forças físicas e foi para o quartel, emputecido com o governo monárquico que mandou chamar o gaúcho Silveira Martins para presidir o Conselho de Ministerial.
Martins era inimigo de Deodoro. Dizem que amavam a mesma mulher. Ferido no seu orgulho de macho, o marechal reuniu a tropa para destituir o novo Conselho, e não o imperador.
Conta a pesquisadora Lilia Scharcz (“As barbas do Imperador”), que o major Frederico Sólon Sampaio Ribeiro, encarregado de entregar o documento de destituição do Ministério, incluiu, por engano, o imperador Pedro II.
No meu imaginário, o trapalhão teria dito coisa parecida com: “Lamento comunicar que Vossa Majestade não é mais Vossa Majestade”.
A elite de latifundiários e bacharéis aplaudiu. Os proprietários de terras, descontentes com a libertação dos escravos. Os profissionais liberais, porque sonhavam com um ideário libertador nos trópicos, como a da Revolução Francesa. O povo assistia tudo sem entender: “O que deu no Deodoro? ”
Uma vez instalado o novo regime, os republicanos correram a apagar tudo aquilo que lembrasse a monarquia. Símbolos nacionais, como a bandeira e o hino, tiveram que ser rapidamente modificados. O hino conservou a melodia imperial. Só mudou a letra. A bandeira manteve as cores dos Bragança e Habsburgo, mudando-se, porém, as explicações. O verde passou a representar as nossas matas, e o amarelo, o ouro e outras riquezas. Como aprendemos na escola elementar.
O distintivo da monarquia foi substituído pela abóbada estrelada, cortada pelo lema positivista de Augusto Comte: Ordem e Progresso. A frase correta começava com Amor. Cortaram o Amor. Uma pena. Durante o movimento dos hippies, de 1960 em diante, teria feito enorme sucesso.
Seu Custódio, português dono da Confeitaria do Império, na Rua do Ouvidor, mandou passar um branco na palavra Império trocada pelo “da República”. Alertado de que o novo regime poderia não durar muito, passou nova tinta na República e mandou pintar “Confeitaria do Custódio”. Por segurança.
A impressão é que a República ainda não amadureceu, passados 130 anos da sua aclamação. Antes tivessem deixado Pedro II no seu lugar, cidadão íntegro com visão de estadista. Sequer aceitou a pensão que o governo quis lhe pagar. Morreu pobre, num pequeno hotel, em Paris. Virou mito. Morre o rei, mas não morre a realeza.
Getúlio Vargas mandou resgatar seus restos mortais em 1939, para dar-lhe o solene descanso final na Catedral de Petrópolis. Jaz ao lado de d. Teresa Cristina.
Na morte, a vitória da celebração.

Maurício Moura
Fantástico, Zarcillo. Parabéns.
proximarota
Agradecido pelo prestígio, Maurício!
Zuleika Lemos Gonsalves
A República proclamada na tranquilidade, sem contestação do notável brasileiro D Pedro II. Estilo brasileiro de ser…