
A NECROPOLÍTICA E A ECONOMIA
ZARCILLO BARBOSA
A necropolítica é um termo que surgiu no colonialismo para designar a política de Estado que separa as populações entre aqueles que devem viver e os que podem morrer ou, eventualmente, as autoridades podem matar.
Na eleição passada, o governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC), agora cassado em definitivo por corrupção, elegeu-se com a promessa explícita de autorizar a polícia a “mirar na cabecinha” da parcela “matável” da população. Não se preocupou, em seu discurso, de acertar inocentes, como as crianças mortas em suas próprias casas por balas perdidas.
Na mesma ocasião, Jair Messias Bolsonaro, candidato à presidência, dizia que “O mal da revolução de 68 foi torturar. Deveria ter matado”. A CPI da Covid, em curso no Senado, já levantou mais de 200 ocasiões em que Bolsonaro demonstra o seu negacionismo face a pandemia e seu combate de acordo com os protocolos sanitários.
– “Vocês entram na conversinha mole de ‘fica em casa’. Isso é para os fracos”.
– “Lamento os mortos. Todos nós vamos morrer um dia”.
– “Não adianta fugir disso, fugir da realidade, tem que deixar de ser um país de maricas”.
As duas dezenas de pérolas bolsonarianas levantadas pela CPI da Covid, evidenciam a necropolítica defendida pelo atual governante do país. A recessão prejudica os interesses políticos. Se a economia não funciona, há desemprego e fome e “não há governo que resista, inclusive o meu”.
O critério é esse: para que alguns vivam e prosperem, é preciso que a vida dos outros seja descartável. Os principais culpados da crise econômica seriam os governadores e prefeitos que impõem restrições ao funcionamento dos shoppings e todo o comércio varejista. E também do Supremo Tribunal Federal que interfere na ação do governo federal de “pôr ordem na casa”.
Essa necropolítica com viés ideológico-eleitoreiro não ocorre só no Brasil. No Texas, o vice-governador resumiu cristalinamente a situação afirmando que “há coisas mais importantes que viver”: trabalhar, consumir e manter as engrenagens rodando.
Sociólogos chamam de “alternativas infernais” a essa situação em que a estrutura social reduz o indivíduo à “liberdade”, de escolher entre opções igualmente ruins. A estratégia perversa encontra muitos seguidores.
A renda básica, que seria a solução só tem saído graças à pressão popular. Assim mesmo, reduzida. O governo sabotou ativamente o combate à Covid-19 desde o início. O objetivo sempre foi criar condições em que a escolha entre a economia e a vida parecesse natural e inevitável.
Em condições normais, um governo que menospreze a morte em massa da população jamais seria eleito. “Lamento, sou o Messias mas não faço milagres”.
Indiferente a política, o vírus está aí, matando cada vez mais. Negros, pardos e brancos. Ricos e pobres. Os problemas econômicos continuarão se a pandemia não arrefecer pela vacinação massiva que a dupla Bolsonaro-Pazzuelo tanto atrapalhou.
É o vírus que afeta a economia e não o seu contrário.

Moacir Puga
É isso aí ZB. Você resumiu a palhaçada toda com poucas linhas.
Como sempre, impecável.
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