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A MIOJIZAÇÃO DA POLÍTICA

A MIOJIZAÇÃO DA POLÍTICA


ZARCILLO BARBOSA
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Os adultos de hoje, que nasceram após o início da década de 1980, são chamados pelos sociólogos norte-americanos de “millennials”. Para nós, brasileiros, eles compõem a “geração miojo” e se caracterizam, principalmente, pela impaciência.


Revoltam-se quando a velocidade do Wi-fi é lenta, sempre acham que estão perdendo tempo, querem resultados práticos e não teorias, preferem “ficar”, do que casar.


Essa ansiedade entre os jovens por resultados instantâneos, segundo os teólogos, já existia na Antiguidade. O Gênesis conta a história dos gêmeos Esaú e Jacó, filhos de Isaac e netos de Abraão. Esaú preferiu vender os seus direitos e responsabilidades de filho mais velho, herdeiro da condução das tribos de Israel, “por um prato de lentilhas”.


Preferiu saciar a fome de imediato do que esperar que o almoço feito pelo irmão mais novo fosse servido a todos. Esaú e Jacó eram gêmeos, mas Esaú é que saiu primeiro do útero materno.


Pulando para o Brasil do século 21, temos um presidente-miojo, que exalta as qualidades instantâneas do macarrão inventado por um japonês chamado Mamofuku Ando. Quando ele morreu em 2007, aos 96 anos, os usuários do produto fizeram “três minutos” de silêncio, em sua homenagem. Tempo exato da cozedura desse produto. A Mezzani, da família Nagazawa, desde os anos 1960 fabrica o miojo lámen (instantâneo), aqui em Bauru.


Outra lição bíblica alerta que não adianta ter pressa, quem não sabe para onde ir.


A família Bolsonaro, até hoje não deixou claro se quer uma ruptura institucional ou apenas produzir factoides que façam o povo esquecer do Queiroz.


Se a intenção, como sugere o deputado Eduardo Bolsonaro, é a da edição de um “novo AI-5”, a ideia está fora de propósito. É própria de quem não viveu sob os efeitos da sua vigência. O AI-5 fechou o Congresso, Assembleias e Câmaras; cassou mandatos; suspendeu direitos políticos; instaurou a censura; cassou bens e suspendeu garantias do habeas corpus.


Alega Eduardo que o país corre o “risco de radicalização da esquerda”. Quem está radicalizando é a família Bolsonaro. Cita como exemplo o que acontece no Chile. Manifestações de rua fazem parte da democracia. Vandalismo é outra coisa. O Estado tem poderes, leis e profissionais em armas para coibir abusos.


Apontado como futuro chefe do clã, Eduardo chegou a ser indicado para ser o embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Ele já havia mencionado que basta “um soldado e um cabo” para fechar o Supremo.


A Guerra Fria acabou, mas os Bolsonaro parecem continuar com a mesma mentalidade arcaica dos regimes autoritários. Nem a China ousa decretar intervenção militar em Hong Kong.


Os Bolsonaro estão unidos no mesmo projeto autoritário. Flávio, em defesa de Eduardo, disse que qualquer punição ao irmão equivaleria a edição do AI-6. A geração miojo também não conhece história. O AI-5 não foi o último da ditadura militar. Terminou no AI-17, que autorizava o afastamento, para a reserva, de militares que se insurgissem contra os “objetivos políticos” do governo ou seja, colocar o general Emílio Medici na presidência da República.


O presidente Bolsonaro disse não apoiar o “sonho” do filho de ver a volta do AI-5. Quando o ato fez 40 anos, Jair subiu à tribuna da Câmara para louva-lo. Um jogo confuso.


Zarcillo Barbosa é jornalista
proximarota
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