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A GENTE NÃO ENTENDE MAS DESCONFIA

A GENTE NÃO ENTENDE MAS DESCONFIA

ZARCILLO BARBOSA
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Na letra de um samba de breque, Adoniram Barbosa determinava para pôr fim numa conversa improdutiva: “… e vamos parar de falar de coisas que a gente não entende”.


Os entendidos precisam é parar de adivinhar o comportamento de um vírus que não conhecemos. O astronauta Marcos Pontes quer combatê-lo com vermífugo que é tiro e queda para pôr lombriga fora. Outros, a exemplo do presidente Bolsonaro, preferem a Cloroquina que cura maleita. Nelson Teich, que substituiu Mandetta no Ministério da Saúde, espera dados para formatar um modelo matemático que inclua parâmetros para juntar Biologia com interesses de mercado e ainda segurem os empregos.


Costumava dizer um amigo que “boas intenções não se contabilizam”.


Num rasgo de coragem, Bolsonaro chama a si a responsabilidade: “Se não der certo (o fim do isolamento), cai no meu colo”. Será que cabe? Foram 217 óbitos nas últimas 24 horas e 2.141 na totalidade, aqui no Brasil.  São 150 mil mortos pelo covid-19, no mundo inteiro.


Todos os governos globais querem a volta da normalidade dentro dessa anormalidade. Duvido que convenha ao mundo voltar a situação pré-pandemia. A “normalidade” consiste em aceitar que 4 bilhões de pessoas não estão cobertas por quaisquer medidas de proteção social.


A comunidade internacional vai morrer de vergonha em saber (dados da OMS) que 60% das pessoas não dispõem de uma pia com água e sabão, em casa. O Estado-provedor vai ter que voltar para distribuir renda. Por enquanto, seis em cada dez pessoas no mundo estão confinadas. O vírus não vencerá o capitalismo porque, ao nos isolar e não gerar nenhum sentimento coletivo, não mobiliza revoluções. Assim pensa o filósofo sul-coreano Han Byung-chul. Isso não tolhe a esperança de que uma política mais solidária haverá de nascer.


Para voltarmos a normalidade, precisamos de respostas a algumas questões fundamentais. Palpites, diagnósticos e prognósticos, escalas logarítmicas e evolução da curva são de pouca utilidade. O que interessa é saber quando vamos atingir o pico. Ninguém sabe. Quando será seguro sairmos às ruas? Estudos em Harvard apontam para 2022, mas ninguém sabe. Quando teremos vacina? Ninguém sabe. Quem já “pegou” está imunizado? Ninguém sabe.


Apara os pesquisadores da OMS, a única certeza é de que precisamos de tempo e de Ciência para vencer o desafio. Nada de “batalha”, “guerra”, “luta”. É só desafio. Os vírus que circulam no Brasil já não são geneticamente iguais aos da China. Mais um complicômetro que também não vai impedir o surgimento de uma vacina eficaz. Medicamentos antivirais específicos também estarão no mercado.


Por enquanto, a única evidência científica, hoje, é de que o isolamento social diminui a letalidade.


Também não entendo de muitas coisas, mas desconfio (obrigado Riobaldo).  Estou convencido que as curas milagreiras, adivinhações e luta pelo poder só vão nos levar por descaminhos. Ou à próxima pandemia.


Zarcillo Barbosa é jornalista
proximarota
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