
OS 70 ANOS DA TELEVISÃO E O PIONEIRISMO DE BAURU
ZARCILLO BARBOSA
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O engenheiro americano que veio supervisionar a montagem da primeira estação de televisão do Brasil, em 1950, estranhou a euforia e pressa de Assis Chateaubriand para inaugurá-la, a ponto de perguntar àquele baixinho irrequieto:
– O senhor está investindo 5 milhões de dólares na TV Tupi, e sabe quantas pessoas vão assistir à sua programação a partir do dia 18 de setembro? Zero. Sim: zero, ninguém. Além dos que estão expostos em meia-dúzia de vitrinas, não há parelhos instalados na casa de ninguém.
A história é contada em “Chatô – o rei do Brasil”, de Fernando Morais. O empresário Assis Chateaubriand era dono do conglomerado de informação e entretenimento Diário e Emissoras Associadas. Paraibano arretado, Chatô mandou importar 200 monitores da RCA, para espalhá-los pelo bares e praças públicas. “No Brasil, tudo tem um jeito”- foi a resposta.
No ano da inauguração da TV Tupi, somente três canais de televisão funcionavam no mundo: na Inglaterra, na França e nos Estados Unidos. Os 5 milhões de dólares corresponderiam, hoje, a 300 milhões da moeda norte-americana. Chatô deu o sinal de 500 mil dólares e pendurou o restante, sem se preocupar quando e como iria pagar.
O atônito técnico da NBC que veio para a montagem, ao ver aquele monte de gente no estúdio improvisado – artistas, autoridades, curiosos – comentou com Cassiano Gabus Mendes, o primeiro diretor de tevê: “Quando vocês escreverem a história da televisão no Brasil, vão ter que dizer que no dia da estreia havia mais gente atrás das câmeras do que na frente dos receptores”.
Das três câmeras adquiridas, uma pifou. Foi desmentida a versão de que o defeito tinha sido provocado pelo champanhe derramado sobre o aparelho. Esse batismo não houve. A suspeita pesou sobre o arcebispo de São Paulo d. Paulo Rolim Loureiro e a água benta espargida sobre o sensível equipamento.
Aqui em Bauru também tivemos o nosso pioneiro intrépido das comunicações. Graças a João Simonetti, em 8 de março de 1934 tivemos a primeira transmissão de rádio feita em Bauru. Foi a segunda realizada no interior do Brasil, depois de Campinas.
Em 1955, João Simonetti, em viagem a São Paulo assiste a primeira transmissão ao vivo de um jogo de futebol. A TV Record transmitia a partida entre Santos e Palmeiras, direto da Vila Belmiro. O empresário empolgou-se com a televisão e sonhou em dotar Bauru “de um treco desses”.
Simonetti era avô de Paulo Sérgio Simonetti, da 94 FM, radialista e professor de rádio, tevê e jornalismo. Era italiano de Cosenza, Calábria. Como estrangeiros não podiam ser donos de meios de comunicação, ele forjou uma certidão como nascido em Dois Córregos. Comprou o cartório de registro civil de lá e pôs fogo. Resolvida a questão.
Menos de dez anos depois da inauguração da TV Tupi, em 1958 Simonetti recebeu um telegrama de Juscelino Kubitscheck comunicando a assinatura de um decreto concedendo o canal de televisão de Bauru. O primeiro do interior da América Latina.
Também não havia monitores de tevê em Bauru. Mais previdente que Chatô, o bauruense assinou um contrato com a fabricante Rebratel, que montaria os equipamentos da estação mediante compromisso de venda de mil aparelhos da sua marca.
Os televisores eram caros. Chegavam a custar pelo menos metade do valor de um Fusca. Não deu para vender tudo tão rapidamente e o contrato de 7 milhões e 500 mil cruzeiros ficou para um até talvez, até quem sabe.
O melhor da história é que no dia 1º de Agosto de 1960, aniversário da cidade que tinha 90 mil habitantes e 500 domicílios com tevê, inaugura-se a TV Bauru, hoje TV Tem.
A primeira telenovela bauruense: “Um nome escrito no céu: Tereza”, adaptação de Clorinda Resta sobre a vida de Santa Terezinha.
A santa deve ter ajudado muito quando João Simonetti conseguiu vender o controle acionário para a Organização Victor Costa, depois Globo, que assumiu a dívida com a Rebratel. Ficou o exemplo e empreendedorismo.

Zuleika Lemos Gonsalves
Bauruenses notáveis, João Simonetti é um deles. ?