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UMA TRAGÉDIA DEMASIADAMENTE HUMANA

UMA TRAGÉDIA DEMASIADAMENTE HUMANA


ZARCILLO BARBOSA
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A cidade amanheceu sob o choque da tragédia envolvendo dois policiais militares. Seria mais uma notícia, entre tantas banalizadas, não fossem os personagens bastante conhecidos e respeitados pela comunidade.


Ainda não se tem informações sobre os motivos que levaram um dos envolvidos a matar seu companheiro de farda e, em seguida, se suicidar.


Nada mais propício a atrair o interesse público do que as tragédias demasiadamente humanas. A solidariedade se manifesta de pronto, e acaba por aí. O sol sempre nasce no dia seguinte, por maiores que sejam as dores dos parentes, amigos e admiradores.


O cabo Mário Sabino Jr., teria sido morto, baleado pelo sargento Agnaldo Rodrigues, que em seguida se matou. Sabino era um judoca olímpico, detentor de várias medalhas como campeão da modalidade em nível pan-americano e mundial. Um quadro perfeito para uma tragédia de repercussão. Ainda vamos ouvir muitas especulações sobre os fatos que antecederam o doloroso acontecimento.


Os personagens de Shakespeare sempre espelharam a dinâmica do amor, da lealdade e da traição. Com esses arquétipos se tornaram universais e revividos até hoje pelos mais talentosos atores.


A morte não é a maior tragédia do ser humano. É apenas um ponto final. Explicam os psicólogos sociais que o pior é quando algo vital dentro da pessoa morre, enquanto ainda está viva.


A consciência humana nunca amadurece, continua infantil por toda a vida. Quando um valor cultivado por gerações, perece, a pessoa é capaz de coisas surpreendentes para se livrar do que atormenta a sua mente limitada. Isso faz o comportamento humano imprevisível.


No “Mito da Caverna”, Platão defende que a realidade é apenas uma sombra do mundo perfeito. Seguindo essa reflexão, Nietzsche dizia que o homem não é apenas fraco, é também assustado, paranoico e diviniza as mais baixas qualidades humanas.


A filosofia ocidental reconhece que a modernidade falhou na sua tentativa de dar um significado à vida.


O que morreu foi nossa dimensão divina, nossa vontade de viver plenamente. Nos tornamos seres pequenos, egoístas, covardes e assustados.


“Se Deus está morto, tudo é permitido”. A única certeza para o incréu, é a sua tragédia ser apenas uma transição para o além do próprio homem (Assim falava Zaratustra).


Serve de consolo que a traição nunca triunfa. Se triunfasse, ninguém mais ousaria chama-la de traição. Traidor é sempre odiado. Só o inimigo não trai.


Dante a colocou no nono círculo do inferno, o mais profundo, habitado por Lúcifer que se contenta em espicaçar os condenados à mais dolorosa e eterna punição.

Zarcillo Barbosa é jornalista
proximarota
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