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A PEDAGOGIA DO FRACASSO

A PEDAGOGIA DO FRACASSO

ZARCILLO BARBOSA


Após seis meses de escolas fechadas devido a pandemia do Covid-19, ainda não se sabe quando as atividades educacionais vão voltar.


Em Bauru, 61 escolas municipais, colégios estaduais, Unesp, USP e estabelecimentos particulares continuam sem aulas presenciais. No Brasil,  14 milhões de alunos não têm data para retomar os estudos.


Estamos entre os países com mais tempo sem aulas presenciais. Os prejuízos são incalculáveis para o desenvolvimento da capacidade de adquirir conhecimentos das crianças, adolescentes e jovens brasileiros. Esse atraso terá reflexos no Produto Interno Bruto.


Estudos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelam que os impactos na atividade econômica deverão durar até o fim do século, levando a uma contração de 1,5% na economia mundial ao longo do período. Considerando que o Brasil supera a média de suspensão das aulas, os efeitos aqui serão ainda mais catastróficos.


Os estragos não se contam apenas em números ou cifras. As longas quarentenas podem causar transtornos psicológicos, comprometem a segurança alimentar e aumentam os casos de abusos e maus-tratos.


Aqui em Bauru, estamos com as escolas fechadas desde a segunda quinzena de março. Pelo menos 350 servidores da rede particular perderam o emprego. Governador e prefeito têm autonomia para tomar decisões. Falta coordenação do MEC e das secretarias de Estado da Educação e da Saúde. Um espera pelo outro como forma de não assumir responsabilidades. Para piorar, o ano é de eleição. Nenhum candidato quer ser acusado de “negligente”, ou “imprudente”.


Abriram-se shoppings, bares, restaurantes, igrejas e academias. Liberaram-se parques, pontos turísticos e praias. Tudo lotado nos fins de semana. Transporte público apinhado. E as escolas fechadas.


Qualquer retomada precisaria ser organizada, de modo a minimizar os riscos e assegurar a saúde de alunos, professores, funcionários e até dos pais. O secretário municipal da Saúde declarou que esse tipo de planejamento leva três meses. Daí falar-se em “volta às aulas” somente em 2021.


Com todo respeito, as providências, todos nós sabemos quais são: máscaras, álcool em gel, distanciamento, mais períodos de aulas com menos alunos, medição de temperatura corporal, água e sabão, capacho com água sanitária…


Existem experiências bem-sucedidas em países como a Alemanha, França, Bélgica e Holanda. Já era o momento de as escolas estarem prontas e equipadas com todo esse aparato e saber o que fazer para afastar alunos sob suspeição.


Sequer aulas remotas temos. O fracasso pedagógico começa aí. Bem coerente com o retrato do Brasil.

Zarcillo Barbosa é jornalista


proximarota
1 Comentário
  • Zuleika Lemos Gonsalves

    Eu não enviaria meu filho a escola antes da vacina. Primeiro a vida, a saúde… Teremos tempo para correr atrás do atraso, acreditando no empenho no setor educacional. Tenho esperança!

    20/09/2020 às 12:39 Responder

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