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NOVO NORMAL NA ANORMALIDADE

NOVO NORMAL NA ANORMALIDADE


ZARCILLO BARBOSA



Pensei, e escrevi um dia, sobre o Brasil mais solidário na pós-pandemia. Imaginei uma sociedade eticamente mais avançada e racional, depois de aprender, da própria tragédia, que somos muito mais dependentes uns dos outros, do que poderíamos supor.


Vejo, pela mídia, que me enganei em depositar tantas esperanças num “novo normal”. Os sinais por toda parte são de repetição dos padrões tradicionais do “salve-se quem puder”. Os fura-filas das vacinas, exercendo os seus podres poderes, ilustram bem uma das causas dessa frustração.


No começo da pandemia, ser contra ou a favor do isolamento podia ser definido como um debate entre terraplanistas e pessoas que acreditam na ciência. Agora, entramos no segundo ano da Covid-19 e já não existe mais  aquela aceitação incondicional das medidas mais estritas.


Queremos crer que a economia também é importante para a sobrevivência dos padrões de renda, mesmo à custa de mais de mil pessoas que morrem, diariamente, no país.


Para o governo, os fura-fila preocupam menos do que os fura-teto. O orçamento tem limites. O Ministério da Saúde cortou metade dos custeios aos leitos de UTI. Economizar é preciso. Todos concordam com a continuidade do auxílio emergencial à massa desempregada, para que se possa mantê-la viva, mas quieta, antes que a fome aperte e todos saiam às ruas, sem máscara, e comecem a quebrar a sinalização e pôr fogo no lixo.


Distribuir algum dinheiro é preciso – os congressistas concordam. O diabo é de onde tirar alguns bilhões de reais. Da elite do funcionalismo, jamais. Dos políticos, muito menos. Nem falar nos penduricalhos que ornamentam os salários no Judiciário.


O “novo normal” ameaça trazer muitas novidades à cena, em 2021. A dupla Sergio Moro e Deltan Dallagnol periga ir para a cadeia como algoz do Lula. Foi graças ao conluio diabólico desses dois, et caterva, que 500 pessoas foram denunciadas por atos de corrupção e lavagem de dinheiro. Com suas maquinações extra autos, foram condenadas 253 dos denunciados, a 2.286 anos e 7 meses de penas. Mais de R$ 4 bilhões foram devolvidos aos cofres públicos e outros R$ 14 bilhões estão ajustados para retorno ao povo roubado, em 183 acordos de colaboração.


Agora, querem anular processos. Não pela prova de inocência dos réus, mas pela prescrição e supostos equívocos formais. Ou porque Sergio Moro e Dallagnol trocaram ideias por mensagens hackeadas no Telegram.


Quem esperava mais clareza de visão e mais adesão ao interesse comum, depois da pandemia, vai se decepcionar.


Quem sabe de bom, disso tudo, sobre o reconhecimento ao trabalho desses heróis anônimos, profissionais da saúde, na linha de frente contra a Covid-19. Além do vírus ainda têm que lutar contra a falta de oxigênio e os hospitais desaparelhados.

Zarcillo Barbosa é jornalista
proximarota
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