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NEPOTISMO É COISA ANTIGA

NEPOTISMO É COISA ANTIGA

ZARCILLO BARBOSA
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Essa questão de “nepotismo”, que tanto se discute, é antiquíssima.


Dizem que começou com o Senhor nomeando seu Filho embaixador na Terra, para pôr fim à balburdia. Deu no que deu. Ressuscitou mortos, retornou a visão aos cegos, transformou a água em vinho e assim mesmo o crucificaram.


Imediatamente o Senhor presenteou-o com novo cargo, na Santíssima Trindade.


O que não dá um pai pelo seu filho? Até filé mignon, mesmo quando ele contenta em fritar hambúrgueres.


Nepotismo vem de “nepote”, que na etimologia latina significa “sobrinho do sumo pontífice”. Na verdade, os nepotes eram filhos do papa, que o chamavam de tio, para disfarçar. O celibato clerical já era exigido, mas nunca obedecido. Clemente V, que viveu nos anos 1.300, nomeou cinco dos seus filhos como cardeais da igreja.


Napoleão Bonaparte foi o maior nepotista da história. Nomeou três irmãos como reis de países conquistados.


Pero Vaz de Caminha, autor da primeira reportagem sobre o descobrimento do Brasil, no final da sua carta a El-Rei de Portugal, D. Manuel I, pede emprego para o seu genro. Daí se dizer, até hoje, que para ter um emprego público é preciso de pistolão. Vem de epístola (carta).


“Sic transit gloria mundi” – e assim seguem as coisas mundanas e passageiras.


Lembro-me do Severino Cavalcanti, presidente da Câmara dos Deputados. Com oito parentes pendurados na folha do Legislativo, inspirava humoristas como Millôr Fernandes: “Mateus, primeiro, segundo e terceiro, os teus”.


Cavalcanti, não estava nem aí: “Essa história de nepotismo é coisa para fracassados e derrotados que não souberam criar seus filhos”.  Na tentativa de se livrar de críticas, ele se utilizava do nepotismo cruzado. Pedia ao colega deputado: “Tu nomeia meu filho que eu nomeio o teu”.


O Supremo estabeleceu regras básicas antinepotismo (Súmula 13), mas deixou brechas. Em seguida, Lula proibiu por decreto. De nada adiantou. A própria Alta Corte também concluiu que, se o cargo é político, não tem importância.


Bolsonaro, na Câmara, reafirmou sua predileção pelo nepotismo: “Por vezes, temos que tomar decisões que não agradam a todos, como a possibilidade de indicar para a Embaixada dos Estados Unidos um filho meu… Se está sendo tão criticado, é sinal de que é a pessoa adequada…”


No plenário, Eduardo Bolsonaro agradeceu ao pai: “Sou seu filho, indissociavelmente”. Amor filial emociona. O pai que lambe sua cria, nada mais faz do que cumprir um ritual de preservação da espécie. 


A Constituição Federal, no artigo 37, dispõe que a administração pública obedecerá aos princípios da “impessoalidade, legalidade, publicidade, moralidade e efetividade”. Letras mortas.


Lá nos Estados Unidos, eles preferem grelhar ou chapear o hambúrguer. Aqui, fritam-se ministros e o povo é assado.


Deve ser a tal de “nova política”.

Zarcillo Barbosa é jornalista
proximarota
1 Comentário
  • Zuleika Lemos Gonsalves

    Presidente, ou é nepotismo ou oportunismo, escolha!

    21/07/2019 às 20:49 Responder

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