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Lima, a cidade dos reis

Lima, a cidade dos reis

A Capital do Peru, país carregado de cultura, é a porta de entrada para quem vai a Cusco, Machu Picchu e outras maravilhas

 

 

A viagem a Lima, partindo de Guarulhos (São Paulo), dura em torno de cinco horas, mas é bem diferente de quando se vai a Santiago, no Chile, sobrevoando os Andes e seus picos nevados. Não que o Peru não os tenha. É que ficam em outras regiões, mais distantes da capital.

 

O Chile tem o pico mais alto da Cordilheira dos Andes, o Aconcágua com 6.962 metros de altitude (bem perto de Mendoza, na Argentina, apenas 112 km) e o Peru o Huascarán ou Nevado Huascarán com 6.768 metros e o Yerupaja, com 6.635 metros, este já na região de Cusco.

 

Depois de cruzar os estados brasileiros e a Bolívia – onde há picos bem altos –  o avião se aproxima de Lima. Dependendo da época do ano – eu fui em junho, pleno inverno –  por conta do nevoeiro é praticamente impossível avistar a cidade.

 

Por conta disso ou por falta de informação recente, há quem tenha uma visão errônea da cidade se referindo a ela como uma capital cinza. Não é. Vá até Miraflores, San Isidro e verá que é belíssima, com áreas verdes, construções coloniais, praças com oliveiras e muitas flores.

 

 

 

IRRIGAÇÃO SUBTERRÂNEA É O SEGREDO

 

Banhada pelo Oceano Pacífico e com índice pluviômetro baixíssimo – os visitantes se surpreendem com a quantidade de parques, áreas livres e jardins incrivelmente floridos. A explicação: as áreas têm irrigação subterrânea e as empresas gozam de descontos nos impostos quando investem em paisagismo.

 

Ao contrário do Brasil, onde apenas se coloca uma plaquinha de participação, lá o nome da empresa ou do produto são expostos em topiaria, com resultado imediato. Basta cruzar a Via Rápida para se ver o resultado.

 

O aeroporto de Lima fica a poucos quilômetros do mar. E é agitadíssimo, seja de dia ou de madrugada, quando chegam a maioria dos voos.

 

 

SAN ISIDRO E MIRAFLORES

Bonitos e elegantes, os mais conhecidos bairros de Lima mostram como a cidade se modernizou sem abandonar o passado histórico

 

Lima e São Paulo têm aspectos semelhantes. Há lugares belíssimos e outros digamos, nem tanto. San Isidro e Miraflores são limpos, bonitos, organizados. Lembram os bairros chiques de qualquer cidade europeia, com mansões amplas, arejadas e ajardinadas e bem cuidadas avenidas.

 

San Isidro concentra as “oficinas”, ou seja, os escritórios das grandes empresas e as principais redes hoteleiras e foi, no passado, o refúgio afrancesado da sociedade limenha.

 

É lá que fica o Bosque das Oliveiras. As árvores retorcidas, de tamanho médio, têm 500 anos e foram plantadas na área antes habitada pelo conquistador Antônio de Rivera, no ano de 1550, pelos espanhóis. Sentar no jardim dá uma paz infinita e seus bulevares tranquilos convidam para a prática de caminhada ou jogging.

 

Bosque das Oliveiras (Foto: Eliane Barbosa)

Bosque das Oliveiras (Foto: Eliane Barbosa)

 

 

Pavilhão das Bandeiras e o agito

 

Miraflores é neon puro. O bairro, chique, concentra também hotéis premiados, como o Meliá Lima, o Pavilhão das Bandeiras e muitos cassinos. Além de grandes magazines de roupas, eletrodomésticos, lanchonetes e casas de diversão noturna.

 

Miraflores (Foto: wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Miraflores-Lima.jpg)

Miraflores (divulgação internet)

 

 

Miraflores é um dos distritos limenhos com maior identidade, resultado de ter nascido como um bairro de classe média. Hoje, oferece instalações cosmopolitas, e centros de entretenimento cercando o tradicional Parque Central. Lá também fica o Larcomar, um moderno centro de compras e entretenimento a céu aberto, com vista para o Oceano Pacífico. O pôr do sol é deslumbrante!

 

O Shopping Larcomar e a inigualável vista do Oceano Pacífico (Foto: Paula Lemos Barbosa)

O Shopping Larcomar e a inigualável vista do Oceano Pacífico (Foto: Paula Lemos Barbosa)

 

 

Lima se modernizou, ganhou em alguns bairros ares de boutique, sem deixar de lado seu passado histórico e sem temer o novo. O Parque Central, por exemplo, passou por uma completa remodelação nos anos 80 e ganhou nova cara, atrativa.

 

 

BARRANCO E O PARQUE DO AMOR

 

Os limenhos dizem que Miraflores é o bairro mais elegante da cidade e que Barranco é o reduto da boemia. Lugar para se tomar vários piscos souers e a deliciosa cerveja Cusqueña.

 

Embora a areia do Oceano Pacífico não seja branquinha como a do Nordeste brasileiro, não deixe de passear pelo calçadão, que é charmoso, com projeto paisagístico digno de aplauso.

 

É lá que fica o Parque do Amor, um mirante ajardinado com vista para o Pacífico. Casais de namorados se abraçando e beijando há aos montes, assim como as limenhas pousando com seus vestidos nupciais. O parque conta com uma enorme escultura de um casal se abraçando (O Beijo, obra de Victor Delfín)

 

Parque do Amor (foto: Eliane Barbosa)

Parque do Amor (foto: Eliane Barbosa)

 

 

Perto dele fica a Ponte dos Suspiros (já no bairro de Barranco), além de vários museus, como o Galeria de Arte Popular de Ayacucho. Uma lenda diz que se alguém conseguir atravessar a ponte de madeira sem respirar terá um desejo atendido. Vale a pena tentar.

 

 

 

(Foto: Visit Peru)

(Foto: Visit Peru)

 

 

Barranco reúne muitas opções de lazer e é o local preferido de veraneio da aristocracia limenha, abrigando casarões, prédios de apartamento com vista para o mar, ruas estreitas, praças e a vida artística e boêmia da cidade.

 

Barranco (Foto: Visit Peru)

À noite Barranco se ilumina (Foto: Visit Peru)

 

 

O ceviche, o pisco e os grãos

 

O ceviche continua sendo o prato de referência do Peru, embora sua gastronomia vá muito além dele, aplaudida por chefs e gourmets. Trata-se de uma espécie de carpaccio de peixe, curtido no sal, na pimenta-do-reino e no limão (semelhante ao galego muito mais forte do que o brasileiro), que recebe a adição de cebola e pimenta fresca. O prato é servido em tacinhas ou pratos pequenos e é encontrado também com camarão, lula, frango, sardinha e polvo.

 

Segundo os chefs e donos de restaurante, como o mais que premiado Restaurant Señorio de Sulco, com vista para o Oceano Pacífico, o preparo é fácil: os filés são lavados em água salgada gelada e depois em água sem sal, processo indispensável para se eliminar toda a gosma do peixe e depois cuidadosamente secados e cortados em tiras finas e pequenas. As tiras cortadas com faca afiadíssima são, então, colocadas nas tacinhas ou pratos de cerâmica (nunca de metal) para receberem suco de limão, sal e pimenta-do-reino. Aguarda-se uns minutos para tomar gosto e adiciona-se mais “temperos”, incluindo, então, rodelas de ají (pimenta pequena peruana) ou de pimenta-cereja, pimenta-bode ou mesmo dedo-de-moça e a cebola picada fininha. Para quem quiser, vai bem alho picadinho e caldo de uma laranja ácida por cima.

 

(Foto: Eliane Barbosa)

(Foto: Eliane Barbosa)

 

Para os carnívoros, depois do ceviche recomendo lomo saltado (filé mignon cortado em tiras e frito com cebola e tomate – também em tiras), acompanhado de batata frita e arroz branco. Divino.

 

Outra opção é o Restaurante El Salto del Fraile, que oferece um variado bufê de comida peruana. Mais do que pela comida, o restaurante é bastante visitado por sua localização, no alto do desfiladeiro Salto del Fraile, assim conhecido em razão da lenda de um jovem apaixonado por sua meia-irmã rica, que se lançou ao mar após ter sido mandado pela família para um convento de frades, na tentativa de acabar com o romance. Ao ver o salto do amado, a moça também se atirou do penhasco e ambos morreram.

 

El Salto del Fraile (Foto: Paula Lemos Barbosa)

El Salto del Fraile (Foto: Paula Lemos Barbosa)

 

 

Catedral e as múmias

 

Católicos, os espanhóis se encarregaram dos templos. A Catedral de Lima é um dos exemplos. É grandiosa com portas trabalhadas de madeira e abriga os restos mortais do conquistador Francisco Pizarro.

 

Catedral de Lima (Foto: Eliane Barbosa)

Catedral de Lima (Foto: Eliane Barbosa)

 

Quase ao lado, na mesma Plaza Mayor, fica a Igreja de São Francisco, também maravilhosa, com pátios com azulejos espanhóis coloridos. É, na verdade, um conjunto, abrigando a igreja, o Museu de Arte Religiosa, o convento dos franciscanos – há mais de 50 ainda vivendo lá, no claustro ou nos aposentos – e uma rede de galerias, as catacumbas.

 

A igreja de San Francisco é famosa por suas catacumbas subterrâneas (Foto: Visit Peru)

A igreja de São Francisco é famosa por suas catacumbas subterrâneas (Foto: Visit Peru)

 

 

Quando se entra nelas, o silêncio é mais que necessário. Em cada “saleta” estão dispostos ossos distintos do corpo humano: pernas num canto, braços em outros, crânios mais adiante até se chegar ao final do “túnel” com um cadáver “montado”. Um lugar para quem não sofre de claustrofobia e não se importa com um cheiro não muito agradável. A ventilação não chega a sufocar, mas não é das melhores. Como o trajeto é curto e belo, apesar de lúgubre, vale a pena encarar.

 

O Convento de Santo Domingo também pode ser visitado. Construído em 1535, hoje é possível conhecer os claustros, com as paredes revestidas de azulejos sevilhanos, a basílica onde se conservam relíquias peruanas, o túmulo de Santa Rosa de Lima e a vasta biblioteca. Para saber mais, acesse: www.conventosantodomingo.pe

 

Peruanas em trajes típicos recebem os visitantes no Convento de Santo Domingo (Foto: Eliane Barbosa)

Peruanas em trajes típicos recebem os visitantes no Convento de Santo Domingo (Foto: Eliane Barbosa)

 

 

Giro pela história 

 

A capital peruana foi fundada em 18 de janeiro de 1535 pelo conquistador Francisco Pizarro, que dizimou com o último imperador inca. Trinta e cinco anos após a descoberta do Brasil pelos portugueses, Lima, na Costa do Pacífico, era estratégica para os ibéricos ampliarem seus domínios na América do Sul, por conta da localização de seu porto no centro da costa do país.

 

O rio Rimác, que corta a capital peruana e passa exatamente atrás do Palácio do Governo, deu origem ao nome Lima. Significa em linguagem indígena “falante ou falador” por ser, antes de canalizado, muito barulhento por conta da correnteza.

 

O passeio pelo Centro Histórico pode começar por ele, que está hoje muito seco e sujo. O setor velho tem ruas estreitas, calçadões, algumas casas e sobrados que aguardam restauração, outros prédios remodelados – o Palácio de Torre Tagle é lindíssimo -, um comércio agitado, ambulantes que vendem artesanato em dólar, sol ou mesmo em real, muitas crianças pedindo dinheiro e, claro, igrejas, praças e palácios como qualquer outra cidade colonizada por espanhóis.

 

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O Centro Histórico de Lima foi tombado pela Unesco como Patrimônio da Humanidade (Fotos: Eliane Barbosa)

 

 

É difícil registrar tudo sobre o centro de Lima. A área é extensa e tudo é histórico e lindo. Reserve pelo menos um dia de sua viagem para conhecer algumas de suas belíssimas construções, com balcões da época republicana (muitas oferecem visitas guiadas).

 

 

Geografia e o Pacífico 

 

Banhada pelo Oceano Pacífico, a cidade possui belas praias, férteis vales e áreas desérticas. A costa peruana apresenta a forma de um extenso deserto encostado nas montanhas. E é precisamente a presença dos Andes ao leste, junto com a corrente fria de Humboldt que chega até suas praias, o que dá à região essa característica árida e seca – desde o deserto de Sechura até as pampas de Nasca e o deserto do Atacama.

 

Devido à umidade vinda do mar, sente-se um leve frio no inverno, embora a temperatura não abaixe mais do que 12ºC. Durante o verão, o sol brilha com força e a temperatura chega com frequência a 30ºC.

 

Lima é uma cidade moderna, em constante crescimento, mas que tem mantido ao mesmo tempo as riquezas de seu centro Histórico, com incomparáveis monumentos artísticos. Embora a cultura mais conhecida no Peru seja a inca, muitos outros povos estabeleceram-se antes no país.

 

As culturas pré-incas assentaram-se ao longo de 1.400 anos na costa e na serra do Peru, atingindo com seu poder e influência, grandes áreas do território. Todas elas caracterizam-se pela produção de cerâmicas, adaptação do meio e excelente manejo dos recursos naturais.

 

Prova disso está nos museus de Lima, caso do Museu do Ouro, de Arte Religiosa e o museu particular Larco Herrera, instalado em uma casa colonial construída em 107. Além de uma infinidade de cerâmicas, o museu exibe em seu acervo a única coleção de objetos em barros “huacos” eróticos.

 

 

Pachacámac e a Unesco

 

Por sua arquitetura colonial, Lima, porta de entrada para o Peru, foi declarada pela Unesco Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1991.

 

Além do Centro Histórico e dos bairros famosos, oferece aos visitantes lugares únicos, como o sítio pré-colombiano Pachacámac, centro de peregrinação religiosa de diversas épocas.

 

As ruínas da cidade cerimonial de Pachacámac impressionam. O local era um antigo oráculo dos povos andinos e, junto com Cusco, era o principal centro de culto aos deuses. Gente de todo canto não se cansava de reverenciar Pachacamac – o criador do mundo e das criaturas. O complexo exibe templos de diversas eras e transmite energia aos visitantes.

 

As origens de Miraflores remontam ao ano 200 da existência da cultura local. Um dos vestígios desse período que se estendeu até o ano de 700 é a Huaca Pucllana, lugar que se constituiu como um centro local, religioso e administrativo de toda a produção da zona. O sítio arqueológico é o resumo de como vivia a população da época, que se dedicava à pesca marinha, à agricultura e à fabricação de grandes catamarãs e objetos metálicos. Ocupa um quarteirão e é todo construído de tijolos encaixados simetricamente.

 

Huaca Pucllana (Foto: http://huacapucllanamiraflores.pe/)

Huaca Pucllana e as lhamas (divulgação internet)

 

 

Há um restaurante bem ao lado das ruínas, obrigatório para quem aprecia os bons pratos da rica gastronomia peruana. Para maiores informações acesse: http://huacapucllanamiraflores.pe/

 

 

Outras opções na capital são seus museus e palácios milenares e o bairro de escravos de Pachamamilla, datado do século 18 e a antiga praça de touros de Acho.

 

 

Saiba mais

 

O fuso horário em Lima é de duas horas a menos em relação ao Brasil.

 

Lima concentra a maioria da população do país.

 

A temperatura oscila entre 27ºC no verão e 12ºC no inverno e quase nunca chove. No inverno, apenas chuviscos e neblina, leve.

 

Os táxis, muitos velhos, são o principal meio de transporte dos turistas. Cobram muito pouco e rodam muito. Negocie o preço antes.

 

Taxi em Lima é barato e seguro (Foto: Eliane Barbosa)

Taxi em Lima é barato e seguro (Foto: Eliane Barbosa)

 

O mototáxi também é bastante utilizado (Foto: Paula Lemos Barbosa)

O mototáxi também é bastante utilizado (Foto: Paula Lemos Barbosa)

 

 

As “propinas” (gorjetas) são como uma instituição em vários locais e cidades do Peru. Impossível evitar aquelas crianças lindas, de cabelos lisos e negros, com roupas muito coloridas, algumas até mesmo com lhamas no colo como se fossem seus cães de estimação, com as mãozinhas estendidas à espera de sua moeda.

 

A população se locomove nos ônibus coloridos, típicos do Peru, que lembram os mexicanos, cheios de penduricalhos.

 

(Foto: Eliane Barbosa)

(Foto: Eliane Barbosa)

 

 

*Texto: Eliane Barbosa

 

 

 

Eliane Barbosa
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