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A MOSCA AZUL

A MOSCA AZUL

ZARCILLO BARBOSA



A mosca azul, aquela que inspirou um belo soneto de Machado de Assis, voeja por todos os recantos do país.


Estamos a oito meses das eleições municipais e já se contam em dúzia, o número de candidatos a prefeito de Bauru.


Benedito Valadares, governador mineiro que mandou como nunca na política do seu estado, na época pré-JK, dizia que “o poder é melhor que requeijão”. Para ele, só o fato de passar quatro anos sem ter que pegar em maçaneta de porta compensava qualquer sacrifício.


Melhor que isso só os elogios que o cara recebe, porque manda. É verdade que as coisas mudaram muito desde os tempos do governador mineiro. Com o surgimento das tais “redes sociais”, independentes do poder financeiro e político de quem está no cargo, prefeito e vereadores são mais apedrejados que a Gení. Embora os puxas-sacos ainda existam às pencas.


A estratégia do nosso presidente tem sido ignorar as críticas e falar somente para os apoiadores. Para os jornalistas, bananas. Se já não bastassem as musáceas, Bolsonaro criou a estratégia de invadir a vida sexual das repórteres. Se com verdades ou mentiras, para ele pouco importa. Periga essa questão de furos íntimos virar política de governo.


O poderoso se habitua de tal sorte a escutar elogio que tende, com o tempo a selecionar os interlocutores. Termina por excluir os que pretendem lhe dizer coisas desagradáveis. Conheci um prefeito que se arrepiava com assessores que traziam problemas. Ou até mesmo soluções. Às vezes é mais interessante deixar como está, porque o entrave vem da administração do adversário.


O presidente Bolsonaro mandou demitir o presidente do BNDES Joaquim Levi, porque não encontrou irregularidades nos empréstimos concedidos à empresas, no governo do PT. Seu substituto contratou uma auditoria internacional, gastou R$ 46 milhões com revisões de contas e a resposta foi a mesma do economista demitido: “nada irregular”.


No passado, houve um prefeito em Bauru que exonerou o secretário das Finanças por causa da irritação que lhe causava seus constantes alertas sobre a situação precária do tesouro. Um mês depois não havia dinheiro para pagar os funcionários.


A mosca azul é terrível. Todas as pessoas estão sujeitas a ela. Conta-se que na Palestina, na época de Jesus, havia uma quantidade assustadora de insetos, sobretudo de moscas. Em muitos livros se fala de gafanhotos, que tudo destruíam, quanto atacavam aos milhões as plantações de trigo e centeio. Um dos nomes do demônio era Belzebu, ou seja, BaalZebub, o senhor das moscas. E uma das moscas mais perigosas sobrevoou em círculos concêntricos sobre os apóstolos durante a Santa Ceia.


Quando observavam as moscas repugnantes que envolviam seres humanos, formando nuvens sórdidas, os primeiros judeus convertidos ao cristianismo percebiam como a mosca azul era notável pela diversidade de tipos humanos que ela atacava: romanos, gregos, fenícios, hititas, samaritanos e, naturalmente, judeus de todas as seitas. A mosca azul não perdoa ninguém.


Pela quantidade de pré-candidatos parece que há mais coisas no céu de Bauru do que aedes aegypti. Ninguém é imune ou infenso. Pelo menos nos cabe a responsabilidade de escolher os que reúnam condições de melhor representar o povo e seus anseios. Aquele capaz de se conter no poder a ponto de resistir às tentações e Belzebu. Se é que existe.

Zarcillo Barbosa é jornalista
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